quinta-feira, 6 de abril de 2023

O que é evangelização

O QUE NÃO É
Creio que todos nós, cristãos evangélicos, estamos acostumados com o tema evangelização. Aliás, deveria ser algo metabolizado na vida da igreja por ser a proclamação das boas novas a sua principal tarefa.
Ocorre que a percepção sobre o assunto tem abarcado tantas nuances a ponto de nos perdermos no emaranhado de tantas propostas que nos levam a diferentes direções, todas distantes do que significa evangelização. Assim, o meu propósito nesta primeira parte é pincelar sobre o que não é evangelização.
1. Evangelização não é em sentido lato ou estrito propor-se primariamente a construir templos, alguns deles faraônicos, para ali nos reunirmos em atitude contemplativa, como no monte da transfiguração, distantes da realidade do mundo.
2. Evangelização não é desenvolver notado serviço social, onde a igreja seja um ponto de serviços para a comunidade e se responsabilize por suprir as suas necessidades básicas.
3. Evangelização não é promover reuniões para discutir filosofia, política, ideologias e tornar a igreja um ambiente politizado, ideologizado e filosófico, onde a vida diária dos crentes é regida pelo que lá se discute.
4. Evangelização não é desenvolver as habilidades dos crentes através do coaching para serem bem-sucedidos em seus negócios e tornar a igreja um nicho empresarial.
5. Evangelização não é convidar a comunidade ao redor para um show, onde as estrelas são celebridades e o nome de Cristo é eventualmente mencionado como coadjuvante.
6. Evangelização não é sentar-se à mesa dos reis para tornar a igreja amiga do Estado e usufruir benefícios de toda ordem, como se fosse extensão do governo na comunidade.
7. Evangelização não é melhorar o mundo, como se as habilidades humanas fossem capazes por si mesmas de implantar o paraíso na terra.
Tudo o que descrevi até agora nada tem a ver com evangelização, propósito primeiro da Igreja, como enunciei logo no início. Outros pontos poderiam ser adicionados. Mas esses, acredito, são suficientes até para outros desdobramentos.
No entanto, o texto ficaria incompleto, se eu não definisse o que é evangelização à luz da Bíblia. É o que terei em vista tratar na segunda parte.

O QUE É
Sem entrar no mérito do termo no original, ele aparece no Novo Testamento, seja como substantivo, seja como verbo, nas suas distintas flexões, sempre conotando a ideia da proclamação das boas novas. Nenhum outro sentido cabe no vocábulo, por mais que pregadores contemporâneos lhe tentem emprestar outras significações. Abaixo os pontos em destaque:
1. A Grande Comissão dada por Cristo aos discípulos e à Igreja em geral (Mateus 28.18-20) implica em pregar, batizar e ensinar, nessa ordem. Se não houver pregação, não haverá batismo nem a quem ensinar. Em suma, não haverá convertidos e discípulos. A Igreja, portanto, terá falhado em sua primeira tarefa.
2. Isso implica em que nada pode equiparar-se ou sobrepujar a missão que o Senhor outorgou ao seu povo. Ao apresentar as boas novas ao mundo, a Igreja, como sua responsabilidade primeira, oferece o meio da graça para a salvação e cumpre a tarefa que lhe foi dada. Em outras palavras, ela pode fazer tudo, mas se não proclamar o Evangelho nada fez.
3. A tarefa tem tamanha importância e prioridade que o Senhor capacitou os discípulos e a Igreja em geral para realizá-la, derramando o seu Espírito no Dia de Pentecostes, quando se deu a sua inauguração entre os homens, Atos 1.8.
4. Cumpre ressaltar que o Senhor recomendou expressamente aos discípulos que não saíssem de Jerusalém sem que fossem revestidos de poder ou autoridade para o cumprimento da missão. O derramamento foi imediato, porque a proclamação era imediata. Não podia ser postergada. Ocorreu 10 dias após a recomendação expressa.
5. O esquema geográfico da proclamação aparece na recomendação expressa como registrada por Lucas em Atos dos Apóstolos: Jerusalém, Judeia, Samaria e até os confins da terra. Ao mesmo tempo. Jamais em escala hierárquica. Fosse dessa forma, a proclamação não nos teria alcançado.
6. É interessante que essa simultaneidade aparece estruturalmente explícita na narrativa lucana. Parece que os primeiros cristãos ainda estavam presos aos vínculos com Jerusalém, ainda assim Judeia e Samaria foram alcançados, incluindo-se a perseguição que o Senhor enviou para os espalharem.
7. Não nos esqueçamos de Paulo, a quem o Senhor constituiu para os gentios em cumprimento da última parte da recomendação expressa: até os confins da terra. O mundo de então, até a última fronteira do Império Romano, viu refulgir a luz do Evangelho entre eles, porque os cristãos, principalmente Paulo, “não foram desobedientes à visão celestial".
8. Os pontos da proclamação das boas novas — ou da evangelização — estão explícitos na pregação de Pedro no Dia de Pentecostes: morte e ressurreição de Cristo, arrependimento e perdão dos pecados. Sem esses elementos, não há proclamação. Não há evangelização.
9. Ao longo da história, outras "missões" foram inseridas na vida eclesiástica a ponto de se perder a essência do significado da evangelização, prioridade primeira (o pleonasmo é proposital) e última da igreja.
10. O ardor evangelístico fez parte da vida dos cristãos primitivos. Era algo urgente. Há que se resgatar o mesmo ardor presentemente. "Quem salva é Jesus", dirá alguém. Não se põe em dúvida a afirmação. Mas é nossa responsabilidade proclamá-lo, anunciá-lo, batizar os crentes e ensiná-los a guardar tudo quanto o Senhor ensinou.
11. Uma igreja que se reúne debaixo de um pé de jabuticaba com esse senso de missão expressa localmente a Igreja de Cristo. Por outro lado, uma igreja que se reúne em um portentoso templo, mas Cristo está ausente de sua mensagem, perdeu a sua verdadeira natureza.
Evangelização é a tarefa urgente da Igreja. Se você gostou, venha comigo em outras postagens tratando de forma simples temas relevantes para a vida eclesiástica.

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