quinta-feira, 6 de abril de 2023


Por um púlpito melhor


Começo por afirmar que tornar o púlpito uma plataforma, onde se assentam dezenas e, às vezes, centenas de obreiros, é uma prática muito comum nas Assembleias de Deus do Brasil, que contribui para a perda de sua finalidade. No entanto, cultura não se muda muito rapidamente. É preciso insistir na tecla. Enquanto isso, algumas dicas preciosas de coisas em geral a serem evitadas no púlpito.

1. A primeira delas, visto não ser possível mudar tudo de uma vez, é permitir que apenas subam ao púlpito as pessoas que participarão da liturgia. Já é um grande passo para restringir o acesso desenfreado a todos os que se acham no direito de lá estar.

2. Aos que cantam e conduzem o louvor congregacional, evitem caras e bocas, roupas apertadas ou com o corpo exposto. Vocês não estão numa passarela. Não são arroz de festa. A postura esperada é a mais humilde possível, rosto no pó, evitando aquela rama de falatório, visto que se trata da adoração comunitária ao Criador.

3. Aos que pregam, preparem-se em todos os sentidos para entregar uma mensagem bíblica à altura da necessidade da igreja. Evitem desabafos, alfinetadas, compartilhamentos de histórias de membros da própria igreja, falação sem nexo ou mesmo enrolação. Apenas pregue. Não a sua palavra. A Palavra de Deus.

4. Aos que se assentam no púlpito em razão da cultura já desenvolvida, evitem folhear a Bíblia, como se estivesse a procurar um texto caso seja chamado. Deveriam vir prontos de casa. Em alguns casos, nem é isso. É mesmo desrespeito ao culto.

5. Outros comportamentos inadequados aos que nele se assentam são: a) cochicharem entre si, ora murmurando, ora criticando quem canta, ora falando mal do pregador, ora dizendo que fariam tudo melhor, ora bocejando, ora mexendo vergonhosamente com as mãos, por vício, em partes que deveriam ser evitadas publicamente, enfim, atraindo a atenção para si ao invés de atrair para o Senhor.

Outros pontos valeriam a pena ser listados. Mas como tenho o propósito de usar o mesmo texto em diferentes redes sociais, esses por agora bastam. Não se trata de ser chato. Trata-se de termos um púlpito melhor.


 O púlpito

1. O púlpito pertence ao pastor da igreja. Sua tarefa primeira é servir o alimento ao povo. Portanto, terceirizá-lo é renunciar a uma responsabilidade exclusivamente sua.
2. Com isso, não quero dizer que outras pessoas não possam pregar sob sua autoridade e que não se possa convidar alguém para eventualmente contribuir com a pregação em momentos específicos da vida da igreja.
3. Só que deixar que outros preguem o tempo todo, enquanto o pastor permanece apenas como mero administrador, é transferência de responsabilidade e se constitui em anormalidade.
4. O Salmo 23 tem a medida perfeita para nos ensinar sobre o assunto. Embora ali fale sobre o Sumo Pastor, é perceptível por analogia que o papel principal do pastor de uma igreja é levar as ovelhas aos “pastos verdejantes e às águas tranquilas”.
5. Todavia, por que muitos terceirizam a pregação?
a) ocupam-se com tantas outras coisas que não dispõem de tempo para preparar-se e preparar os seus sermões;
b) tornam-se pastores por conveniência de toda ordem, mas não têm vocação para o pastoreio;
c) acham que depender do Espírito Santo lhes dá o direito de agirem com imprevisibilidade;
d) são nuvens vazias que deixam o pasto ressequido, as ovelhas desnutridas e a mercê de lobos cruéis;
e) acostumaram mal o rebanho com algodão-doce, festas, eventos, plumas, colorido que preferem manter esse tipo de situação, visando apenas ter uma igreja cheia, um caixa transbordante;
e) em suma, não são legítimos pastores.
O discurso é duro, mas é o retrato da realidade em muitas de nossas igrejas, onde há de tudo, menos a proclamação bíblica.
Queridos colegas, pastoreiem o rebanho que o Senhor lhes confiou. A tarefa, repito, é exclusivamente sua e de mais ninguém.

O que é evangelização

O QUE NÃO É
Creio que todos nós, cristãos evangélicos, estamos acostumados com o tema evangelização. Aliás, deveria ser algo metabolizado na vida da igreja por ser a proclamação das boas novas a sua principal tarefa.
Ocorre que a percepção sobre o assunto tem abarcado tantas nuances a ponto de nos perdermos no emaranhado de tantas propostas que nos levam a diferentes direções, todas distantes do que significa evangelização. Assim, o meu propósito nesta primeira parte é pincelar sobre o que não é evangelização.
1. Evangelização não é em sentido lato ou estrito propor-se primariamente a construir templos, alguns deles faraônicos, para ali nos reunirmos em atitude contemplativa, como no monte da transfiguração, distantes da realidade do mundo.
2. Evangelização não é desenvolver notado serviço social, onde a igreja seja um ponto de serviços para a comunidade e se responsabilize por suprir as suas necessidades básicas.
3. Evangelização não é promover reuniões para discutir filosofia, política, ideologias e tornar a igreja um ambiente politizado, ideologizado e filosófico, onde a vida diária dos crentes é regida pelo que lá se discute.
4. Evangelização não é desenvolver as habilidades dos crentes através do coaching para serem bem-sucedidos em seus negócios e tornar a igreja um nicho empresarial.
5. Evangelização não é convidar a comunidade ao redor para um show, onde as estrelas são celebridades e o nome de Cristo é eventualmente mencionado como coadjuvante.
6. Evangelização não é sentar-se à mesa dos reis para tornar a igreja amiga do Estado e usufruir benefícios de toda ordem, como se fosse extensão do governo na comunidade.
7. Evangelização não é melhorar o mundo, como se as habilidades humanas fossem capazes por si mesmas de implantar o paraíso na terra.
Tudo o que descrevi até agora nada tem a ver com evangelização, propósito primeiro da Igreja, como enunciei logo no início. Outros pontos poderiam ser adicionados. Mas esses, acredito, são suficientes até para outros desdobramentos.
No entanto, o texto ficaria incompleto, se eu não definisse o que é evangelização à luz da Bíblia. É o que terei em vista tratar na segunda parte.

O QUE É
Sem entrar no mérito do termo no original, ele aparece no Novo Testamento, seja como substantivo, seja como verbo, nas suas distintas flexões, sempre conotando a ideia da proclamação das boas novas. Nenhum outro sentido cabe no vocábulo, por mais que pregadores contemporâneos lhe tentem emprestar outras significações. Abaixo os pontos em destaque:
1. A Grande Comissão dada por Cristo aos discípulos e à Igreja em geral (Mateus 28.18-20) implica em pregar, batizar e ensinar, nessa ordem. Se não houver pregação, não haverá batismo nem a quem ensinar. Em suma, não haverá convertidos e discípulos. A Igreja, portanto, terá falhado em sua primeira tarefa.
2. Isso implica em que nada pode equiparar-se ou sobrepujar a missão que o Senhor outorgou ao seu povo. Ao apresentar as boas novas ao mundo, a Igreja, como sua responsabilidade primeira, oferece o meio da graça para a salvação e cumpre a tarefa que lhe foi dada. Em outras palavras, ela pode fazer tudo, mas se não proclamar o Evangelho nada fez.
3. A tarefa tem tamanha importância e prioridade que o Senhor capacitou os discípulos e a Igreja em geral para realizá-la, derramando o seu Espírito no Dia de Pentecostes, quando se deu a sua inauguração entre os homens, Atos 1.8.
4. Cumpre ressaltar que o Senhor recomendou expressamente aos discípulos que não saíssem de Jerusalém sem que fossem revestidos de poder ou autoridade para o cumprimento da missão. O derramamento foi imediato, porque a proclamação era imediata. Não podia ser postergada. Ocorreu 10 dias após a recomendação expressa.
5. O esquema geográfico da proclamação aparece na recomendação expressa como registrada por Lucas em Atos dos Apóstolos: Jerusalém, Judeia, Samaria e até os confins da terra. Ao mesmo tempo. Jamais em escala hierárquica. Fosse dessa forma, a proclamação não nos teria alcançado.
6. É interessante que essa simultaneidade aparece estruturalmente explícita na narrativa lucana. Parece que os primeiros cristãos ainda estavam presos aos vínculos com Jerusalém, ainda assim Judeia e Samaria foram alcançados, incluindo-se a perseguição que o Senhor enviou para os espalharem.
7. Não nos esqueçamos de Paulo, a quem o Senhor constituiu para os gentios em cumprimento da última parte da recomendação expressa: até os confins da terra. O mundo de então, até a última fronteira do Império Romano, viu refulgir a luz do Evangelho entre eles, porque os cristãos, principalmente Paulo, “não foram desobedientes à visão celestial".
8. Os pontos da proclamação das boas novas — ou da evangelização — estão explícitos na pregação de Pedro no Dia de Pentecostes: morte e ressurreição de Cristo, arrependimento e perdão dos pecados. Sem esses elementos, não há proclamação. Não há evangelização.
9. Ao longo da história, outras "missões" foram inseridas na vida eclesiástica a ponto de se perder a essência do significado da evangelização, prioridade primeira (o pleonasmo é proposital) e última da igreja.
10. O ardor evangelístico fez parte da vida dos cristãos primitivos. Era algo urgente. Há que se resgatar o mesmo ardor presentemente. "Quem salva é Jesus", dirá alguém. Não se põe em dúvida a afirmação. Mas é nossa responsabilidade proclamá-lo, anunciá-lo, batizar os crentes e ensiná-los a guardar tudo quanto o Senhor ensinou.
11. Uma igreja que se reúne debaixo de um pé de jabuticaba com esse senso de missão expressa localmente a Igreja de Cristo. Por outro lado, uma igreja que se reúne em um portentoso templo, mas Cristo está ausente de sua mensagem, perdeu a sua verdadeira natureza.
Evangelização é a tarefa urgente da Igreja. Se você gostou, venha comigo em outras postagens tratando de forma simples temas relevantes para a vida eclesiástica.

quinta-feira, 22 de abril de 2021

O cristão degradê e a sã doutrina

Cristãos degradê

O espírito do tempo é um dos males que mais tem penetrado no meio da comunidade cristã, produzindo estragos de tal ordem que identificarmo-nos como cristãos é uma tarefa difícil, porque tal identidade passou a ter vários matizes e variadas flexibilizações. Diria que nem com mosaico se parece. Está mais para pintura degradê, que na parte de cima começa com uma cor, cujos tons vão se alterando de forma sutil, até chegar na parte de baixo com outra cor completamente distinta da cor do início. É como dizer que temos cristãos de todos os tipos para todos os gostos, sem que haja entre eles uma distinção definida de cores. São cristãos degradê. Essa é a frase que mais se ouve em seus lábios: "o que importa é amor!"

Sem me prender a outros, há pelo menos dois exemplos que identificam o cristão degradê. Ele aparece na fala de certo pastor, que defendeu uma espécie de santidade interior sem considerar o lugar onde a pessoa está ou o que ela esteja fazendo. É uma forma sutil de encaixar na mensagem evangélica o universalismo. "Vivam do modo que quiserem. Ao final todos serão salvos. O que importa é o coração". O segundo exemplo, também reverberado pelo mesmo pastor e por muitos outros que seguem na mesma trilha, é o de que não existe doutrina correta, perfeita, sã, capaz de expressar a verdade da Escritura. É como se nesse cipoal doutrinário pós-moderno cada um possa agarrar-se ao seu cipó, chegando aos mesmos resultados diante de Deus.

O problema de ambos os pressupostos é que descaracterizam a fé bíblica e a transformam num caldo sem sabor definido, mais para insosso, cuja aparência não permite sequer definir a natureza do conteúdo: se é goiaba, maçã, pera, laranja, uva ou qualquer outra fruta comestível. Mais parece uma mistura de ervas daninhas com pitadas de algum fruto só para tentar enganar quem precisa nutrir-se. Noutra ponta, é dizer ao ouvinte ou leitor que ele é o senhor da interpretação, como advoga a "teologia da experiência", tomando a Escritura como um livro onde determina a seu bel-prazer o certo ou errado, ou, sendo mais assertivo, o certo ou errado dependem da perspectiva de cada um. Sob esse ponto de vista, reunirmo-nos como igreja é uma desnecessidade. Total perda de tempo. Cada um estabelece o próprio caminho. Todos "dão na venda". É a deixa em que muitos "desigrejados" sustentam o seu discurso.

Como os nossos pressupostos baseiam-se na Escritura, é nela que devemos buscar a resposta para os dois exemplos usados neste ensaio. Mas não com a perspectiva do leitor como sujeito e, sim, buscando entender, como ponto de partida, o significado pretendido pelo autor, evitando saltos carpados, exegeses complexas, longos e muitas vezes abstratos conceitos, mas desvendando da forma mais simples possível, sob a iluminação do Espírito Santo, o que Deus nos revelou como padrão, tanto para a igreja como para cada cristão. A não ser assim, tornar-nos-emos presas fáceis do cipoal doutrinário, onde não se consegue distinguir sequer por onde os cipós estão subindo e aonde chegarão.

A primeira premissa mostra-se logo inepta por uma razão essencial: não há como dissociar a santidade interior das evidências externas que ela manifesta. É uma dicotomia ou divisão inexistente. A própria natureza nos ensina que a árvore má produz maus frutos e a árvore boa produz bons frutos. A substância das ações revela a essência que as produz. Jesus mesmo corrobora o conceito ao confrontar fariseus e doutores da lei, afirmando que "não se colhem figos de espinheiros, nem dos abrolhos se vindimam uvas", Lucas 6.44,45. A santidade bíblica é completa, plena, transparecendo em todas as áreas da vida cristã. É bem verdade que o processo começa de dentro para fora, nunca ao contrário, mas compreende espírito, alma e corpo, nessa ordem, 1 Tessalonicenses 5.23.

Não há qualquer vislumbre na Escritura que subentenda a hipótese de o cristão viver uma vida de piedade e ter, ao mesmo tempo, uma vida mundana, dissoluta, com entrega voluntária ao pecado. São possibilidades incompatíveis. Como se costuma dizer nas redes sociais, os dois não dá. Ou se vive a santidade ou se vive a vida mundana.Tentar conciliar as duas posições é mais do que vulgarizar a graça. É renegá-la. É fazer dela um instrumento estéril. É presumir que a graça deleita-se com o pecado, quando, ao contrário, a mesma graça que salva instrumentaliza a nossa santificação. Ela nos conduz às "boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas", Efésios 2.10.

Tal proposição não implica afirmar a nossa impecabilidade, porque, embora estejamos crucificados com Cristo e tenhamos morrido para o mundo (Gálatas 2.20), esse não é um processo estático, mas contínuo e crescente à medida que mortificamos diariamente a nossa carne, cuja natureza - a Bíblia diz - é propensa ao pecado. A ideia da impecabilidade, isto é, de que não mais pecamos, é uma interpretação forçada e extrema de 1 João 3.6 como traduzido na Almeida Revista e Corrigida: "Qualquer que permanece nele não peca; qualquer que peca não o viu nem o conheceu". 

Primeiro, porque a mensagem no original significa que o cristão não vive deliberadamente pecando, não é dado ao pecado, não faz dele uma prática habitual. Outras traduções e versões traduziram com maior clareza o texto. Segundo, se o verso defendesse a impecabilidade, estaria em contradição com o próprio contexto e outras passagens que aludem à probabilidade de pecar, reforçando, inclusive, a luta permanente - sempre a partir da graça santificadora do Espírito - contra as paixões da carne. Cito apenas um verso do próprio João que resume de forma magistral tudo o que a Palavra de Deus diz a respeito: "Filhinhos meus, estas coisas vos escrevo para que não pequeis. Se todavia, alguém pecar, temos Advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo", 1 João 2.1 (grifo meu).

Esta é a verdade, em poucas palavras: a santidade é inconciliável com a vida deliberadamente pecaminosa. O cristão não a experimenta, se habitualmente, como prática cotidiana, entrega-se a uma vida desregrada, lança-se na lama podre do pecado, joga-se no precipício das paixões infames, abebera-se das fontes de águas turvas, sem que isso lhe cause qualquer sentimento de repulsa. Por outro lado, quem experimenta a santidade, jamais desejará correr em busca do pecado, as suas paixões serão contidas pela graça, mas se vir a pecar, o seu coração sentirá a tristeza segundo Deus, que o levará ao sincero arrependimento, não desejando jamais repetir as mesmas práticas, 2 Coríntios 7.10.

Com isso, chegamos à segunda premissa: a de que não há doutrina correta. Cada um que suba no seu cipó. Mas a própria exposição em síntese que acabei de fazer sobre a santidade bíblica mostra que a afirmação não é só frágil. É errada e inconsistente com a Escritura. Diria mais: torna a Palavra de Deus submissa ao pensamento humano e dá voz a toda sorte de achismos. A Reforma resgatou o livre exame, já que até então o povo não tinha acesso à Bíblia. Era restrita ao sistema sacerdotal romano. Mas em nenhum momento afirmou que cada um a interprete como quiser.

Enquanto Lutero esteve escondido no castelo de Wartburg, traduziu o Novo Testamento para o alemão e em 1522 foi publicada a primeira edição da Bíblia por ele traduzida. Embora já houvesse outras traduções, foi a que mais teve repercussão à época. O povo começou a desfrutar da oportunidade de examinar de per si a Escritura. Mas livre exame é diferente de livre interpretação. Ler a Bíblia com os pensamentos já pré-condicionados é usá-la apenas como pretexto. É preciso lê-la com o coração aberto, usando as ferramentas certas, para que o Espirito Santo nos induza a compreender e aceitar as verdades que ele revela e não prevaleçam as nossas deduções.

A leitura dos salmos, por exemplo, permite-nos perceber que os salmistas apontam fartamente a Palavra de Deus como reta, pura, santa, verdadeira, engrandecida, iluminadora, antídoto contra o pecado e desejável, entre tantas outras definições que asseguram a sua singularidade e autoridade. O profeta Jeremias, com suas ricas metáforas, viu a Palavra de Deus como um martelo que esmiúça a penha, ou seja, capaz de quebrantar o coração mais endurecido, Jeremias 23.29. Outras citações do AT poderiam ser mencionadas, mas o fato é que nenhum livro ocupa essa dimensão, se for um compêndio humano. A Escritura é a reta palavra de Deus e contém a reta doutrina emanada de sua própria boca por inspiração do Espírito Santo aos instrumentos humanos designados pelo Altíssimo para escrevê-la..

Em seu confronto com os fariseus, o próprio Jesus autentica a validade da Escritura ao reconhecer que eles, embora estivessem em contradição com a mesma Escritura, examinavam-na com o propósito de encontrar nela a vida eterna e por saberem que ela testificava acerca do Messias, João 5.39. O texto não é um mandamento, mas a constatação de que os fariseus a examinavam com a premissa certa, mas a interpretação errada, pois não reconheciam a Jesus como o enviado de Deus (ver o verso seguinte). No caminho de Emaús, outra vez autentica a validade do AT ao encontrar-se com os dois discípulos frustrados. Ele os repreende, abre os seus olhos, mas o faz expondo-lhes toda a Escritura, começando por Moisés. Na sequência, apresenta-se aos discípulos, certamente no Cenáculo, em Jerusalém, e expõe os mesmos argumentos -  Tota Scriptura - só que desta vez alude à classificação usual da Bíblia Hebraica naquela época: Moisés, Profetas e Salmos, João 5.44-49. Ou seja, se a Escritura e a doutrina por ela exposta não forem classificadas como retas e verdadeiras, que sentido faz a existência da Igreja?

No entanto, o tema da reta doutrina costuma ser levantado em relação às epístolas, como se fossem menos inspiradas e tivessem menos valor e menor autoridade do que as palavras do Senhor. É tanto que os defensores da tese apelam para definir que Jesus é a chave hermenêutica de modo que tudo mais tem de ser interpretado segundo a sua perspectiva, descartando-se o que não estiver aí enquadrado. Soa até bonito e atraente. Mas é uma premissa falsa. 

A primeira razão é que os registros das palavras de Jesus foram feitos por outras pessoas, nos evangelhos, não pelo próprio. Não há qualquer documento que ele tenha escrito de próprio punho. Ou seja, se acreditamos na fidelidade dos registros do que ele disse, feitos por terceiros, nos evangelhos, por equivalência devemos acreditar nos demais livros do NT, visto que em relação ao AT, como já vimos, o Senhor mesmo o vaticinou. A segunda razão é que o conteúdo das epístolas, bem como a narrativa lucana em Atos refletem os ensinos de Cristo e em sua maior parte detalham a sua doutrina encontrada em resumo no Sermão do Monte.

Portanto, todas as vezes em que os autores do NT advogam a defesa da sã doutrina  isso implica não só que ela espelha a doutrina de Cristo (2 João 1.9), mas que os seus ensinos são verdadeiros e assim devem ser recebidos, Tito 2.1. É digno de nota que Paulo ao ensinar sobre a Ceia do Senhor à igreja de Corinto é bastante assertivo: "Porque eu recebi do Senhor o que também vos entreguei", 1 Coríntios 11.23. Por extensão, significa que todo o seu ensino oral e escrito tiveram origem em Cristo. Aliás, em sua epístola escrita aos Gálatas, para combater os ensinos perversos do legalismo, deixa isso claro (1.11,12), acrescentando que os apóstolos lhe estenderam a "destra da comunhão", o que basicamente significa que a sã doutrina por ele pregada era a mesma pregada pelos apóstolos.

Ora, se há a sã doutrina, pura, santa e perfeita, como registrada na Escritura, a mesma Palavra refere-se também à falsa doutrina. O próprio Jesus deixa implícita a sua existência ao condenar os fariseus por ensinarem "doutrinas que são preceitos de homens", Marcos 7.7. Nas epístolas são chamadas de "doutrinas de demônios" (1 Timóteo 4.1), "vento de doutrina" (Efésios 4.14) e "doutrinas estranhas". Ao mesmo tempo há sérias advertências contra aqueles que proclamam a falsa doutrina e recomendações fortíssimas para que não lhes emprestemos os ouvidos, a mente e o coração, 1 Timóteo 1.3-5; 1 João 1.7-11; Gálatas 1.8. Chegamos, então, ao ponto que esta postagem quer afirmar: há uma doutrina, reta, santa, pura, sã, perfeita revelada na Escritura e que cabe a nós buscar entendimento, mediante a iluminação do Espírito Santo, para entendê-la em contraponto ao veneno mortal da falsa doutrina.

Mas ao final desta primeira postagem sobre o tema, é preciso responder a uma pergunta: por que, ainda assim, há esse imenso cipoal doutrinário, além de cristãos que eu chamo de degradê por concordarem com tudo quanto lhe ensinam sem cotejar com a Escritura? Em poucas palavras: 1) equívocos na interpretação da Escritura; 2) orgulho por serem mestres de si mesmos; 3) vida cristã rasa que pouco valoriza a Palavra de Deus; 4) consideram a Escritura insuficiente e vivem em busca de novidades; 5) desejo pecaminoso de impor o seu pensamento como verdade, e 6) considerar-se como alguém mais sublime, que alcançou outro nível de conhecimento, sendo por isso capaz de encontrar "verdades reveladas" ainda ocultas ou subliminarmente escondidas no próprio texto bíblico.

Na próxima postagem, falaremos sobre a sã doutrina ao longo da tradição cristã.

quarta-feira, 14 de abril de 2021

A SABEDORIA QUE VALE A PENA



A epístola de Tiago parece que foi escrita pouco tempo depois da perseguição contra os cristãos em Jerusalém, que, em razão do episódio, foram espalhados pelo mundo de então. O seu autor teria sido o apostolo Tiago, um dos filhos de Zebedeu, que, ao lado de Pedro e João, fazia parte do círculo mais próximo de Jesus. Ele teve como propósito primário fortalecer a fé dos cristãos judeus, como se depreende de seu primeiro verso. A epistola não foi escrita para corrigir supostos erros de Paulo, como pretendem alguns, o que estaria em flagrante contradição com o conceito do "Tota Scriptura", que defende a Palavra de Deus como inspirada, infalível, inerrante, eficaz, completa e suficiente de tal maneira que as partes do "Sola" se complementam no "Tota" com coerência e continuidade. A título de exemplo, Lucas não se sobrepõe a Paulo. Este, por sua vez, não se sobrepõe a Lucas.

Naquela época os cristãos - judeus ou gentios - só dispunham do Antigo Testamento. Mas até que o cânon fosse fechado, logo surgiram as primeiras circulares, isto é, as epístolas que serviram para tratar de diversas situações na igreja incipiente, entre elas a de Tiago. O seu propósito foi levar encorajamento, fortalecimento, recomendações e valorizar o efeito da fé em Cristo não só diante das perseguições, mas em todas as áreas da vida, num alinhamento perfeito com o que Paulo ensinou em suas epístolas. É sob essa perspectiva que a sua carta é introduzida, pontuando logo de início diferentes circunstâncias que seriam "normais" na vida do cristão, principalmente diante das adversidades que enfrentariam.

Chama-me a atenção que uma de suas primeiras advertências aparece no verso 5, onde recomenda aos cristãos judeus dispersos a buscar a sabedoria do alto. Parece-me até que se trata de um versículo-chave para se entender o que Tiago propõe como marcas evidentes da vida cristã. Dito de outra forma, a única maneira de o cristão em geral enfrentar as circunstâncias da vida e não ser sobrepujado por elas em sua fé é abrigar-se sob a sabedoria dada por Deus e não jactar-se em sua própria sabedoria, situação que tem sido muito comum nos dias de hoje. Achamos que somos sábios em nós mesmos e desprezamos a sabedoria de Deus a ponto de olharmos os demais de cima para baixo, fruto da triste sabedoria segundo o mundo.

Nos quatro versos anteriores do capítulo primeiro, Tiago fala das provações, perseverança e termina dizendo que "a perseverança deve ter ação completa, para que sejais perfeitos e íntegros, em nada deficientes". Sem muito alongamento, é um padrão elevado de vida que poderia ser resumido em constância, firmeza, completude, integridade e eficiência. Em outras palavras, uma forte muralha com profundos alicerces contra as pressões da vida sobre a nossa fé. Já nos versos seguintes ao cinco a ênfase do apóstolo recai sobre o perigo da dúvida, o perigo da inconstância, o perigo das riquezas, o perigo das cobiças, o perigo da ira, para então enfatizar que "toda boa dádiva e todo o dom perfeito são lá do alto". Tiago também aduz: "Tornai-vos, pois, praticantes da palavra e não somente ouvintes, enganando-vos a vós mesmos".

Fico de fato com a impressão que o verso cinco é o divisor de águas, a chave para que possamos metabolizar e pôr em prática os princípios descritos nos versos posteriores e em toda a epístola diante de qualquer circunstância que venhamos a experimentar, como as também descritas nos versos anteriores. Nas provações, diante dos embates contra a nossa fé, na tentativa de imposição de outros deuses em equivalência ou até mesmo suplantação ao próprio Deus, na negligência de uma fé teórica e arrogante, no arroubo de uma teologia intelectual que consegue partir cabelo a machado, mas não tem vida em si mesma, falta-lhe piedade, pois é como se estivesse a dissecar cadáveres, repito, em todas essas circunstâncias só há um único e singular caminho: a sabedoria que vem do alto.

No verso cinco, Tiago é enfático aos que necessitam dessa sabedoria. A sua afirmação presume que há cristãos incluídos nessa categoria. São pessoas que falam o que vem à cabeça. Não se preocupam em ouvir primeiro, ponderar, avaliar e depois falar (ou não). Falam antes e só pensam depois. Incluem-se no mesmo grupo aqueles que torcem a Escritura para que os textos digam o que querem ou adicionam os próprios pensamentos como se Palavra de Deus fossem. Cabem também os que fazem da Escritura apenas um par de muletas, numa tentativa de se sustentar, pois dela já estão distantes há muito tempo com sua teologia liberalizante, "descanonizada" e experencial.

Mas o apóstolo não é egoísta. Ele aponta o caminho para a sabedoria que vem do alto: "Peça-a Deus". Tão simples, mas, ao mesmo tempo, de uma exigência exponencial. Significa abrir mão de nosso orgulho, abrir mão de nossas presunções acadêmicas, abrir mão de nossa prepotência intelectual, reconhecer que o nosso saber não passa de esterco, pouco importando a quantidade de diplomas pendurados na parede do nosso escritório ou gabinete. É certo que, além da Escritura, o caminho pode passar pelo legado de homens piedosos que deixaram e ainda nos deixam milhares de obras inspiradoras. Mas lê-las todas é impossível. Ainda assim - e por isso mesmo - devemos pedir a Deus que nos oriente não apenas sobre o que devemos ler, mas também a quem devemos ler. Fiz questão de grifar a última frase, porque, segundo entendo, o peso espiritual, o peso da piedade, o peso do comprometimento do autor com Deus devem ser levados em conta sobre o que devemos ler.

Outro dado de elevada importância na recomendação de Tiago é que Deus "a todos dá liberalmente e não lhes impropera". A primeira percepção implica numa dádiva irrestrita, isto é, todos os cristãos podem e devem pedi-la e todos os cristãos podem e devem experimentá-la sem que Deus fique a toda hora "jogando em nossa cara", como alguns de nós fazemos. A segunda percepção é que tal sabedoria é dada com liberalidade, ou seja, de maneira generosa, sem quaisquer resquícios de egoísmo ou mesquinhez. É algo que Deus faz com prazer. Ele quer que todos os cristãos desfrutem de sua sabedoria. A terceira percepção é que a todos quantos pedem a sabedoria lhes é concedida. Não é um privilégio de "iniciados" em que se tem de passar por um rito de iniciação. Não é um sistema gnóstico ao qual poucos têm acesso. Não é uma confraria (para evitar outro termo), onde só os participantes são os únicos depositários da sabedoria de Deus. Não! Repito: Deus "dá a todos liberalmente".

Uma das coisas que mais aprecio é me assentar ao lado de irmãos com pouca formação acadêmica (não que o estudo seja irrelevante) e em silêncio ouvi-los e usufruir horas e horas da sabedoria que Deus lhes deu. É um gracioso privilégio! Como aprendo! Muitos deles não tiveram a oportunidade de frequentar um curso teológico (abençoados os que têm a oportunidade), mas todos os dias se ajoelham diante de Deus e, com a Escritura aberta, bebem de sua sabedoria! Se ainda não o fez, experimente esse exercício. Deixe um pouco a cadeira de seu escritório ou gabinete, saia um pouco da frente da tela de seu computador e vá atrás de um desses irmãos! Você verá que valerá a pena!

Amanhã em nossa primeira hora do dia que a nossa oração pungente, sincera, persistente, se preciso banhada em lágrimas tamanha a nossa pequenez, seja essa: "Senhor, enche-me de tua sabedoria. Não a sabedoria segundo o mundo, mas a sabedoria segundo Deus". Pergunte também: "Além da Escritura, que livros devo ler hoje e nos próximos dias?". Você sentirá a diferença.

sábado, 12 de setembro de 2020

 CARTA PÚBLICA DE PEDIDO DE PERDÃO

 


A luta por ideais nos pode levar a caminhos que depois avaliamos não terem sido as melhores opções. Por algum tempo usei o meu blog para falar de questões institucionais ligadas à CGADB. No primeiro momento, em defesa de sua liderança e contra aqueles que lutavam por assumir o protagonismo na instituição. No segundo momento, já em fase posterior, levantando ou dando voz a questionamentos contra a então administração, que, embora pudessem ter alguma legitimidade em relação aos direitos de cada convencional, tomaram o caminho do litígio e desaguou em hostilidade generalizada.

Após orar a Deus, decidi do profundo da minha alma – acredito que seja a direção do Senhor – que essa é uma área que não me cabe. Para ela não fui chamado e não devo, doravante, imiscuir-me nos assuntos institucionais de nossa igreja, a não ser continuar na missão para a qual o Senhor me convocou: ser um expositor da Palavra tanto na pregação quanto na forma escrita.

Decidi também reconhecer de forma pública que, nesse afã de me colocar no campo das disputas institucionais, certamente muitas pessoas podem ter ficado ofendidas, às quais gostaria de deixar registrado o meu pedido de perdão. Citá-las nominalmente me seria difícil por não saber quem exatamente pode ter-se sentido ofendido por minhas palavras. Faço-o tanto em relação aos que estavam e continuam a estar à frente da CGADB quanto aos que, no outro campo, foram também, anteriormente, alvos dos meus questionamentos.

Mas não poderia deixar de citar de modo específico o pastor José Wellington Junior e, por último, o pastor José Wellington Bezerra da Costa, então presidente da CGADB e atual presidente do Conselho Administrativo da CPAD. Reconheço ter sido ele uma das principais mãos que Deus usou para que eu chegasse aonde cheguei.

Entre outros, foi o pastor José Wellington quem viu em mim algum dom da parte de Deus e me abriu as portas para ocupar a então Diretoria de Publicações da CPAD – o que fiz com bastante autonomia – tornar-me por 10 anos Secretário da Comissão da Década da Colheita, da qual ele era o presidente e ainda servir no primeiro termo como Secretário Correspondente da SENAMI e no termo seguinte como seu Secretário Executivo, onde pude contribuir, entre outros projetos, para a fundação da EMAD – Escola de Missões das Assembleias de Deus.

Escrevi coisas envolvendo o seu nome que podem ter sido tomadas – o que é compreensível – como atitude de ingratidão, falta de consideração e até mesmo falta de respeito dadas as circunstâncias litigantes daquele momento. Reconheço que deveria ter sido poimênico e jamais assumir postura de litigância. Já conversei com ambos os pastores de forma cordial – sempre fomos amigos – e de ambos recebi o perdão sem qualquer reserva.

Nada me foi obrigado. Nenhuma imposição me foi feita. A publicação desta carta é uma decisão unilateral de minha parte até para que tenha sobre mim efeito pedagógico e seja uma luz de advertência pública para que eu resista à tentação de qualquer atitude litigante no âmbito institucional-eclesiástico. Enquanto Deus me der vida e saúde, tenho muito o que fazer – na área em que o Senhor me chamou e para a qual fui vocacionado.

O meu abraço fraterno aos pastores e companheiros de jornada José Wellington Junior e José Wellington Bezerra da Costa.


quarta-feira, 27 de abril de 2016

Porque não sou devoto de "teologia brasileira"


Nos primeiros anos da minha caminhada teológica, tive bastante entusiasmo pela ideia de construir uma teologia contextualizada à realidade brasileira sob o argumento de que as teologias "importadas" vazavam os seus argumentos a partir de realidades bastantes distintas das que vivíamos. Era uma hipótese bastante atraente. Por que não encontrar compatibilidades pelo viés teológico com os nossos enfrentamentos? Poderia ser até mesmo uma maneira coerente de justificar certas atitudes.

Com o tempo, todavia, percebi que se tratava de um engodo. Não que a nossa realidade deixasse de merecer respostas teológicas que norteassem os nossos posicionamentos, mas pela sutileza marxista envolvida na ideia. No fundo a finalidade era instrumentalizar a teologia com as ferramentas da ideologia política para que ela - a teologia - dissesse o que esta queria dizer. Ou seja, a famosa "teologia brasileira" seria apenas um leito - um canal - onde livremente correriam as ideias marxistas, como uma forma velada de doutrinação esquerdista em nossas cátedras, algo a que se presta hoje a TMI.

A partir de então tomei distância e ojeriza dessa proposta. Entendo que a nossa base para qualquer enfrentamento é o pressuposto de que a Bíblia é a Palavra de Deus, de onde somos capazes de extrair princípios para todas as situações da vida, sem rótulos que  a reduzam por subserviência a este ou aquele viés. Apenas para ilustrar, é puro reducionismo tentar, por exemplo, construir a "teologia do rico" ou a "teologia do pobre", tornando a Palavra de Deus mero eco dos interesses de seus proponentes.

Mas, por outro lado, sempre tendo a Palavra de Deus como base e fulcro para todas as áreas da vida, é justo perguntar que respostas ela tem não só para esses temas, mas também para outros grandes desafios contemporâneos. É óbvio que estaremos, de qualquer modo, fazendo teologia, mas sem rotulagem, reducionismo, deixando de instrumentalizá-la em defesa de posições muitas vezes indefensáveis do ponto de vista bíblico. Hoje, mais do que nunca, a minha base é a Bíblia. Sem rótulos.

quarta-feira, 30 de setembro de 2015

A vinda de Jesus e o fenômeno da "lua de sangue"


Passou-se o fenômeno da "lua de sangue" e as profecias alarmantes não se concretizaram. Previu-se que o mundo acabaria em setembro, mas pelo menos até agora a roda continua a girar. Aguardemos até meia-noite. Ainda faltam algumas horas. A verdade é que a falta de conhecimento bíblico, aliada à ausência de bom senso, produz tais mensagens alarmistas e catastróficas que nada têm a ver com o verdadeiro ensino bíblico sobre a vinda de Jesus. Mas parece que o povo gosta de viver debaixo dessa opressão.

Em primeiro lugar, temos de entender que os sinais previstos na Bíblia - antes que venha o terrível dia do Senhor - são de natureza cataclísmica, catastrófica, que ocorrem sem qualquer previsibilidade, diferente dos fenômenos naturais, como a "lua de sangue", que só voltará a ocorrer em 2033, quando eu, se ainda estiver por aqui, completarei 79 anos. Ou seja, desde o início da existência do Universo esses fenômenos se repetem e, hoje, são previstos com precisão pelos cientistas. Os sinais bíblicos são de outra natureza. Eles ocorrem de forma abrupta, imprevista, como aconteceu em Teresópolis, em janeiro de 2011, ocasião em que, sem exagero, experimentamos um fenômeno diluviano.

Em segundo lugar, na esteira de tais alarmismos surgem as especulações escatológicas e as teorias conspiratórias, como as que antecederam o ano 2000. Houve até quem ensinasse que Lula seria o Anticristo. O disseminador da teoria baseou-se na visão dos quatro animais dada por Deus a Daniel, representando a sequência dos quatro impérios mundiais - babilônico, medo-persa, grego e romano, simbolizados, nessa ordem, pelo Leão, Urso, Leopardo e Animal Grande e Terrível. Que fez o professor? Construiu um acróstico, em português, com a primeira letra do nome de cada animal, que deu o seguinte resultado: Lula! Experimente você mesmo e veja. Ora, se fosse para ser dessa forma, o acróstico tinha de ser construído com as primeiras letras dos nomes em hebraico! Em inglês, por exemplo, o segundo nome já não permitiria tal conclusão: urso é bear!

Em terceiro lugar, embora haja sinais na Escritura acerca do fim dos tempos, a vinda de Jesus será surpreendente, numa hora em que não pensamos, sem que possa haver a "espera" de um tempo predeterminado. Isto implica numa santa expectativa, que nos impõe estar preparados em todo tempo. As malas precisam estar sempre prontas. Muitas datas foram já marcadas - algumas de repercussão mundial - e só trouxeram frustração, desânimo e perda da esperança. Aqui mesmo no Brasil houve vários casos pontuais que resultaram em consequências amargas!

Em quarto e último lugar, para os que têm esperança a vinda de Jesus não é instrumento de opressão, medo, angústia e pavor. Em suas semanas finais antes da cruz, Jesus diz aos discípulos que não fiquem turbados, tristes, frustrados para então introduzir a solene declaração: "Virei outra vez e vos levarei para mim mesmo". Que alegria! À igreja de Tessalônica em que os crentes pareciam estar preocupados se voltariam a ver os entes queridos que tinham partido, Paulo os instrui sobre a bem-aventurada esperança como motivo de regozijo e conforto. Segundo o apóstolo, fomos destinados para a plena salvação em Cristo Jesus.

Portanto, não espere a próxima "lua de sangue" em 2033 para preparar-se. Esteja pronto hoje, com as malas arrumadas, esperando Jesus. Esse é o verdadeiro proceder do crente!