A campanha eleitoral me deixou gratas recordações e me permitiu aprofundar a minha análise sobre a realidade política brasileira. Foram quase dois anos de construção do processo, culminando com os dois meses finais de intensa maratona em busca do voto. Percorri vários municípios e comunidades, levando a minha mensagem da renovação com experiência.
Saio das urnas de cabeça erguida. Obtive votos em 69 dos 93 municípios do Estado do Rio, sem que pudesse visitar a maioria. Conheci e fiz novos amigos, reencontrei tantos outros que há muito tempo não os via e jamais deixei de cumprir o meu papel de agente do Reino de Deus, onde quer que estivesse. Muitas vezes, durante as minhas visitas, orei por pessoas doentes, depressivas, com problemas familiares e falei também do poder do Evangelho.
Quanto à campanha em si consolidei o que já sabia. O Brasil está a anos-luz de ter um modelo limpo em que prevaleça o debate de ideias. Com as exceções de praxe, o jogo é rasteiro, o poder financeiro predomina e o eleitor, regra geral, continua mal-acostumado, principalmente quando se trata de eleições proporcionais. Infelizmente, a caminhada para mudar essa cultura é ainda muito longa. Mas não perco o ideal. Como afirmei no post anterior, "não planto para o presente. Planto para deixar um legado".
No entanto, ainda sobrepuja a derrama de dinheiro, a compra do voto, o "voto de cajado", que acaba elegendo os piores candidatos, com as devidas exceções, em detrimento dos mais preparados, que não lançam mão dos mesmos recursos. O "caixa 2" funciona a todo o vapor até mesmo em muitos dos nossos púlpitos. Sei de casos horrorosos, não poucos, em que a igreja foi "vendida" de porteira fechada para certos candidatos, o que me deixa ainda mais convicto de que boa parte de nossa liderança está gravemente doente!
Não tenho dúvida que precisamos de uma profunda reforma política, com a implantação do voto distrital, o aprimoramento da forma de fazer campanha, privilegiando o debate e não só a conquista do voto em si mesmo e a implantação urgente do voto facultativo. Aqui no Rio de Janeiro, somando a abstenção com os votos nulos e brancos, mais de 50% dos eleitores deixaram de votar em qualquer candidato! É um nível elevado de perda! É óbvio que isso decorre da falta de credibilidade política, mas prova também que o voto obrigatório já não é um instrumento adequado para o momento.
Fiz a minha parte e continuarei a fazê-lo. Lembro-me que há muitos anos um amigo pastor, em cuja igreja vou pregar em novembro, me disse na mesa do almoço: "Geremias, você é muito idealista. Tem de viver no mundo real". Respondi-lhe com candura: "Se não fossem os idealistas do passado, não teríamos o mundo real em que hoje vivemos". Continuarei a nortear-me pelo ideal e menos pelo pragmatismo, com todas as perdas que isso possa me proporcionar. Quero que as próximas gerações tenham um "mundo real" melhor do que o de hoje até que o Reino de Deus seja definitivamente implantado na história humana.
É o que penso.
2 comentários:
Irmão: Obrigado pelo commentário. No mundo inteiro, acredito que os pastores precisam ensinar seus rebanhos as verdades que suas palavras atingem. Na minha opinião, no primeiro lugar precisamos ensinar que o proposito do governo civil é o ministério de justiça (Romanos 13:1-7). Precisamos acabar com o sistema de patronagem herdado do antigo sistema romano, seja no Brasil ou os EUA ou em qualquer pais. • Concordo com outros assuntos seus, mas como americano não sou qualificado falar em particular sobre detalhes que pertencem à realidade brasileira. Porem, você e seus amigos permanecem em minhas orações. "As Americas para Cristo!"
Pastor Geremias, graça e paz!
Tudo quanto o nobre escrevera é o verdadeiro retrato da embrionária "democracia" brasileira.
No tocante às escolhas quanto aos candidatos, do Oiapoque ao Arroiochuí, a prática ainda predominante é a compra de votos e os de cabrestos.
É claro que a intensidade varia de acordo às regiões.
Agora, bravo pastor, mais vergonhoso,sinceramente, é sabermos que líderes de convenções e muitos locais, transformaram suas igrejas em Bolsas de valores.
É o famoso quem dá mais!
Agindo assim, sinceramente, não sabemos que moral têm esses "ministros" de pregão da política partidária podre brasileira, para falar a seus rebanhos sobre ética, seja secular ou religiosa.
Do nosso ponto de vista, os que entraram e entram por esse caminho, se encontram na mesma condição do pastor da Igreja de Sardes ( Apocalipse 3.1-3).
No entanto, nem por isso, deixemos de orar por esse pessoal para que retorne ao primeiro amor.
Em Cristo,
Tadeu de Araújo
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