Considerações preliminares
Peço escusas pelo longo texto. Não tive outra saída. À medida que escrevia, percebi que não havia como ater-me a alguns poucos parágrafos, como é apropriado para os blogs. Demorei também alguns dias para terminá-lo e, do ponto de vista da notícia, já se trata de algo envelhecido. Mas o tema continua pertinente. Como cristãos, precisamos encontrar respostas para os problemas contemporâneos.
Acompanhei com viva atenção o debate na blogosfera sobre a tragédia da menina de Alagoinha. Cheguei, inclusive, a manifestar-me a respeito no blog do colega César Moisés. Meu objetivo era postar um comentário em outros blogs, mas preferi publicá-lo aqui mesmo como contribuição para que o assunto continue sendo debatido e chegue, quem sabe, às esferas convencionais.
Exceto nas outras hipóteses, não escrevo com o objetivo de fechar questão no caso específico do aborto para salvar a vida da mãe. O tema é complexo por natureza. Ao mesmo tempo, é possível que as minhas posições, nesta questão objetiva, sejam divergentes das que têm alguns colegas. Tanto eles quanto eu, todavia, conhecemos a relevância dos debates, e, por isso mesmo, me sinto à vontade para fazer o contraponto, haja vista a maturidade e o alto nível com que tratam este e outros temas na blogosfera e em outros fóruns.
Como pai, caso enfrentasse a mesma tragédia, estaria diante de uma decisão extremamente dolorosa, para a qual precisaria contar – e muito – com a ajuda de Deus e de conselheiros cristãos capazes, que me orientassem em busca de uma solução adequada à realidade sem ferir os princípios da fé cristã. Tarefa nada fácil se os valores humanos sobrepujarem os valores divinos.
Não me reportarei ao que aconteceu. Afinal, o Brasil todo já conhece de cor e salteado o episódio que envolveu aquela inocente menina de nove anos, levada ao aborto de gêmeos – gerados por estupro do próprio padrasto – como resultado da decisão dos médicos, que, sob o amparo da constituição brasileira, diagnosticaram o procedimento como a única alternativa viável.
A fala do Arcebispo
Começo por analisar a atitude do Arcebispo. A mídia enxovalhou-o, sem dó nem piedade, por vir a público afirmar que todos os envolvidos no episódio estavam excomungados, como se tivesse dito a maior asneira do mundo e vivesse em tempos medievais. Talvez não precisasse fazê-lo da forma como fez, ou fosse melhor evitar o pronunciamento para não alimentar a hostilidade da imprensa, mas o seu juízo de valor expressou apenas o que diz a lei canônica da Igreja Católica. Ele não extrapolou um milímetro.
Permito-me até acreditar que sua atitude “precipitada” se baseou no que já sabia por trás dos bastidores, mas só veio a público nos dias seguintes. Aquele procedimento estaria sendo instrumentalizado pelos movimentos abortistas com a clara intenção de servir à causa da legalização do aborto no Brasil, como veremos adiante. Eis então o Arcebispo na linha de frente, pondo a boca no trombone.
A mesma mídia hostil, nos dias seguintes, tentou passar a idéia de que o Arcebispo levou um pito da CNBB e do próprio Vaticano, como se cometera um erro contra os cânones católicos. Nada mais inverídico. O que a nota da organização episcopal ressalta é que ele não teve “a intenção de ferir quem já estava ferido, mas de chamar a atenção justamente para um certo permissivismo que faz com que a vida do nascituro não seja considerada”.
A nota acrescenta, por fim, que, à exceção da menina e da mãe, “no caso dos médicos que declararam ter a intenção de praticar regularmente o aborto, vale a punição da igreja”, embora um deles tenha mencionado que sua vinculação ao catolicismo era apenas nominal. Em outras palavras, a Igreja Católica manteve o que dissera o Arcebispo, sem mudar-lhe uma única palavra em seu veredito.
Mas a mídia usou também um artigo publicado no Osservatore Romano, jornal da Santa Sé, pelo presidente da Academia Pontifícia para a Vida, Monsenhor Rino Fisichela, como prova de que o Vaticano condenara o Arcebispo. Não foi o que percebi ao ler a matéria. É óbvio que o articulista destaca a misericórdia como a virtude a ser priorizada em situações como esta e deixa a entender que a forma como o religioso tratou do assunto pressupôs que a Igreja Católica é insensível aos dramas humanos. Mas concluiu o texto com a seguinte declaração:
- Não era, portanto, necessária tanta urgência em dar publicidade e declarar um fato que se atua de forma automática, mas sim um gesto de misericórdia.
Ou seja, o que a Igreja teria condenado não foi a essência do que afirmara o Arcebispo (perceba que a excomunhão, nestes casos, é “um fato que se atua de forma automática”, independente de se declará-la ou não), mas o que teria sido a falta de uma atitude amorosa para com os que mais estavam sofrendo com o episódio: a menina e a mãe. Condenou a forma, mas não desautorizou o conteúdo.
Em suma, embora de forma incisiva ou aparentemente inoportuna, a depender da ótica de quem analise, o Arcebispo agiu de acordo com os ditames da lei canônica, assim como alguns de nós, ao defender o aborto “terapêutico”, valeram-se das resoluções a respeito aprovadas por suas respectivas instituições denominacionais para embasar os seus argumentos. Porém, antes que os mais apressados me retruquem, uma observação é necessária: não estou fazendo apologia dos cânones romanos, mas procurando ser justo com a descrição dos fatos, ao mesmo tempo em que considero correto, do nosso lado, ouvir o que dizem as nossas instâncias superiores.
No entanto, na Igreja Católica é um dogma, aqui são normas sujeitas à alteração desde que novo juízo se estabeleça, seja preceituado e aprovado para dar forma legal à nova maneira de pensar, buscando-se sempre o fundamento bíblico, embora em casos de elevada complexidade algumas decisões acabem não refletindo de forma cabal a preceituação bíblica.
Fica claro, portanto, que as referidas publicações, ao invés de desautorizar o Arcebispo, como já vimos, serviram mais como instrumento para tentar amenizar o tom das hostilidades à Igreja Católica, numa atitude, a meu ver, ambígua, visto que em questões cardeais, se assim podem ser consideradas, não há meio-termo. Temos de pagar o preço por aquilo que defendemos.
A instrumentalização do aborto de Alagoinha
Passo a considerar, agora, a instrumentalização do episódio de Alagoinha como arma em defesa da legalização do aborto no Brasil. Isso, para mim, ficou nítido desde o início pela forma bombástica com que a imprensa de modo geral trouxe a público o drama da menina. O pacote veio fechado, como fato consumado. Ai de quem levantasse a voz para, ao menos, certificar-se de que poderia haver alternativas. Logo era classificado de desumano, insensível, indiferente à dor alheia e incapaz de aquilatar o sofrimento da família. Com algumas exceções, qual foi o resultado? Aceitamos o jogo da mídia abortista e fomos para a defensiva.
Fiz essas observações no blog do colega César Moisés (para ler, clique aqui), que trouxe ao debate questões cruciais para o balizamento do tema. Percebi em todos os que estiveram envolvidos na decisão tomada – médicos e membros de conselhos tutelares – um açodamento voraz em apresentar o aborto como a única alternativa viável. Isso dissipou as minhas dúvidas quanto às verdadeiras intenções por trás do episódio.
Os dias seguintes comprovaram que a minha expectativa e a de alguns companheiros estava correta. Logo surgiram notícias de que meninas da mesma idade, ou com poucos anos a mais, alhures, vivendo situações semelhantes, deram à luz sem nenhum problema aparente. Na verdade, conforme divulgado pelo blog do Julio Severo, uma menina de nove anos, vítima de abuso sexual por um primo de 29 anos, é a mãe mais nova do Peru (para ler a notícia, clique aqui).
Recentes informações dão conta de que “no Brasil todos os anos há 30 mil gestações de menores de 14 anos e não há nenhum caso registrado de morte por causa da gravidez, quando é oferecido um acompanhamento pré-natal e se permite o parto por meio de cesariana”. No caso da menina de Alagoinha, o que se viu posteriormente foi um cipoal de informações desencontradas, contraditórias e extremamente reveladoras das reais intenções dos movimentos abortistas. Houve cerceamento das liberdades, pressão psicológica e a restrição do direito de os pais tomarem livremente uma decisão diferente. O colega Daladier Lima trouxe em seu blog alguma luz sobre os bastidores (para ler, clique aqui) e o blogueiro Jorge Ferraz publicou um email recebido, que descreve com riqueza de detalhes todos os lances por trás do episódio (para ler, clique aqui).
Não me resta nenhuma incerteza. O caso da menina de Alagoinha foi instrumentalizado para fortalecer a agenda pró-aborto e desencadear outras manifestações já orquestradas e em curso para tentar mudar a opinião do povo brasileiro, que em sua esmagadora maioria é contra a sua aprovação. É tanto que um dos médicos que participou da equipe, em entrevista ao Globo de 15/03/09, declarou que aguarda com ansiedade o dia em que o abortamento se torne legal no Brasil.
Tenho, aqui, outras observações. Não nos iludamos com a mídia. A internacional também. Com raríssimas exceções, sua agenda é anticristã, esquerdista e pautada pelas supostas forças progressistas. Está em marcha um movimento revolucionário global, já denunciado e muito bem descrito pelo filósofo Olavo de Carvalho, que se instrumentaliza, inclusive, de forças ditas evangélicas a serviço dessa agenda. É preciso leitura crítica e cautela para não acabar engolindo versões inverídicas. Isso tem acontecido com frequência.
Temos um exemplo recente. Há poucas semanas a mídia brasileira explorou ao máximo, da forma mais dramática possível, a “notícia” de que uma brasileira havia sido mutilada pelos skinheads, na Suíça. Ela estaria grávida de gêmeos e a agressão provocara o aborto dos fetos. Até o governo, para tirar partido, surfou na onda. Tachou o episódio como um ato xenófobo, com a ameaça do ministro Amorim de levar aquele país ao tribunal de Haia. Faltou pouco para um incidente diplomático. Todos tiveram de enfiar a viola no saco. A verdade logo veio a tona e provou que, diferente do que fora noticiado pela imprensa do Brasil, a brasileira por si mesma se mutilara e jamais esteve grávida.
Antes a notícia fora dada com estardalhaço. Mas na hora em que se mostrou inverídica, o máximo que fizeram, em poucas linhas, sem nenhum destaque, foi tentar justificar a “barriga” com a pressa que a mídia tradicional lida para competir com a internet, que traz a notícia em tempo real. Ou seja, teria faltado melhor apuração dos fatos, algo vital para a prática do bom jornalismo. Mas a não ser em alguns blogs pessoais e de instituições que desenvolvem trabalho crítico, a mídia não teve coragem de revelar o verdadeiro motivo pelo qual exaustivamente explorou a primeira versão da notícia: o fato de ela fornecer munição à agenda esquerdista, que trabalha de forma febril com uma única finalidade: estabelecer a ditadura do pensamento único.
Como diz o provérbio: cautela e caldo de galinha não fazem mal a ninguém. Em temas como aborto e homossexualismo, para ficar apenas nesses, a mídia pautada pelo pensamento esquerdista jamais estará ao nosso lado, mas criará sempre situações para forçar a mudança de mentalidade do brasileiro. Até porque muitos de nós preferem não se dar ao trabalho de pensar, deixando que outros pensem em seu lugar e ditem as regras.
A preservação da vida
Neste ponto, debruço sobre o tema da preservação da vida. Todos os cristãos que postamos na blogosfera nos últimos dias sobre o episódio de Alagoinha, inclusive este articulista, concordamos que aborto é assassinato como fruto de nossa crença no início da vida a partir da concepção. Nisso não divergimos.
Embora a constituição brasileira defina o estupro como uma exceção para o aborto, e o consideremos um ato da maior gravidade e extremamente doloroso para quem sofre, com desdobramentos imprevisíveis, entendemos, por outro lado, que o estuprador deve sofrer os rigores da lei, enquanto uma equipe multidisciplinar, incluindo conselheiros especializados, deveria dar suporte à mulher para levar a gravidez a termo e amar a criança não como fruto do estupro, mas como resultado da vida dada pelo próprio Deus. Ou então encaminhá-la para a adoção, como ocorreu com Rebecca Kiessling, que veio à existência em virtude do estupro sofrido pela sua mãe. Em testemunho publicado no Mensageiro da Paz, edição de março, como citado por César Moisés em seu blog, ela não se considera resultado deste ato brutal, mas fruto do próprio doador da vida:
- Uma das melhores coisas que aprendi é que o estuprador não é meu criador, como algumas pessoas queriam que acreditasse. Meu valor e identidade não são determinados por eu ser o “resultado de um estupro”, mas por ser uma filha de Deus.
Até aqui estamos entendidos. Minha dificuldade começa quando se usa o argumento da preservação da vida como justificativa para o aborto com a intenção de salvar a vida da mãe. Entendo que a Bíblia não relativiza nem estabelece qualquer tipo de gradação neste caso. Quando alguém, por exemplo, alega legítima defesa para a prática de um crime, isso, a meu ver, não atenua o ato diante de Deus, mesmo que a lei humana, ao julgar o réu, conte com esta atenuante. À luz da Bíblia, só há um remédio para redimir a culpa: a graça do perdão.
Igualmente em relação ao aborto. Não consigo encontrar, na Bíblia, qualquer tipo de exceção. Mesmo porque, como vimos acima, temos já uma premissa bem fundada: aborto é assassinato, e aí se baseia, também, um dos nossos argumentos contra o uso de células-tronco embrionárias para pesquisas. No entanto, a constituição brasileira também excetua o aborto para salvar a vida da mãe.
Pergunto-me, então: em que circunstância essa brecha legal pode ser evocada? Apenas quando há um diagnóstico irreversível mediante o qual só o aborto é a alternativa para a preservação da vida da mãe, visto que, se essa decisão não for tomada, ambos morrerão. Regra geral, todavia, esse diagnóstico não é imediato. Segundo alguns especialistas, é possível através de um bom acompanhamento pré-natal empregar todos os recursos para evitar que a mãe chegue a esse ponto em que o aborto se torne inevitável.
Por que faço questão de afirmar o ponto acima? Simplesmente porque, sob o amparo dessa brecha, quantos abortos podem estar sendo provocados apenas para fugir da penalização prevista na hipótese em que ele é juridicamente punido? É muito provável que se use esse argumento nos ambientes médicos favoráveis ao aborto como cortina de fumaça, uma forma de preservar a equipe médica de sofrer os danos da lei e, com isso, criar um biombo de proteção pela prática de um aborto desnecessário e, portanto, ilegal.
Para reforçar a tese que defendo, deixem-me propor aqui, à luz da Bíblia, algumas perguntas, óbvias por sinal, seguindo a mesma lógica do juiz quando propõe os quesitos ao corpo de jurados a fim de chegar ao veredito. Usemos o exemplo da menina de Alagoinha:
- Estavam os gêmeos sendo entretecidos por Deus ainda no ventre materno, ou apenas eram produto restrito da conjunção carnal resultante do estupro, sem qualquer intervenção divina?
- Estavam os elementos do seu organismo descritos no livro de Deus antes que viessem à existência, ou nunca se cogitou a seu respeito na eternidade, sendo o episódio uma surpresa para Deus?
- Quando os gêmeos se desenvolviam no ventre materno, Deus já os conhecia e tinha para eles algum plano, ou foram simplesmente gerados sem qualquer significado e propósito?
- Teriam sido os gêmeos gestados por uma falha da soberania de Deus e, por isso mesmo, podiam ser descartados, ou faziam parte do plano divino, assim como não cai uma só folha da árvore sem que Deus o permita?
É óbvio que essa minha análise é de caráter essencialmente religioso. O meu intento é mesmo pôr o problema sob a perspectiva da Bíblia. Teria como apresentar argumentos em outros campos, mas não o fiz por não caberem no propósito para o qual escrevo. Assim, as perguntas acima deixam claro que à luz da Bíblia não se justifica o aborto e, salvo melhor juízo, não abrem qualquer tangente bíblica nos casos em que se evoca o princípio legal para salvar a vida da mãe pelo simples descarte do feto.
O que resta então nesses casos? Resta a alternativa da ética hierárquica em que a pessoa tem de optar entre o mal maior e o mal menor. Essa é uma decisão pessoal, humana, sofrida e amarga, sem que se invoquem princípios bíblicos para embasá-la. Mas o que é maior ou menor, quando já o feto se encontra em condições de sobreviver fora do ventre materno?
Por ser tratar de decisão de extrema subjetividade, a hipótese do seu uso só deveria ser aventada mediante diagnóstico claro e irreversível, com a anuência da pessoa mais interessada: a mãe. Lembremo-nos também, como subentendido nas últimas linhas do último parágrafo, que a decisão reversa é possível. Há casos registrados em que os médicos optaram por salvar a vida do feto, quando não mais havia probabilidade alguma de sobrevida da mãe. Isso aconteceu recentemente no Rio de Janeiro com uma mulher grávida, que chegou baleada ao hospital, sem qualquer possibilidade de sobrevivência.
Acho que a discussão, em relação a nós, evangélicos, continua aberta apenas nesta hipótese, pelo seu elevado grau de complexidade. Ainda assim, acredito que, se a alternativa para esse tipo de caso for a ética hierárquica, resta ao cristão convicto, genuíno, que tenha sido forçado pelas circunstâncias a tomar tal decisão, buscar a reparação do perdão diante de Deus através da obra expiatória de Cristo.
Considerações finais
Quanto a agenda propositiva do mundo político e da mídia pautada pela cosmovisão pós-modernista, não esperemos dias melhores. Ainda neste sábado, 28 de março, recebi um email do Julio Severo em que o Dr. Zenóbio Fonseca informa ter sido protocolado novo projeto de lei, na Câmara dos Deputados, de autoria de José Genoíno (PT, diga-se de passagem) sob o n⁰ 4914/2009, propondo a união estável entre pessoas do mesmo sexo. Uma nova versão da proposta de Marta Suplicy. Em outras palavras, nossos embates serão ainda mais tensos, as hostilidades aumentarão em graus inimagináveis por parte daqueles que defendem a visão de mundo que exclui Deus de todo o processo e exigirão de nós presença organizada nos fóruns de debates, se não quisermos ser atropelados pelo que vem por aí.
Quero concluir com um testemunho que ouvi de Franklin Graham, na noite de encerramento do Festival de Esperança em Montevidéu, Uruguai, em 21 de março. Dizia ele que uma jornalista o acompanhou por alguns dias, com muitas perguntas, para preparar matéria que seria publicada numa grande revista norte-americana. Ao final, Franklin lhe pediu permissão para inverter o processo e fazer-lhe também algumas perguntas. A jornalista, um tanto surpresa, aquiesceu.
O evangelista aproveitou então a oportunidade para apresentar à mulher o plano da salvação. Após réplicas e tréplicas, ela em lágrimas acabou por confessar os seus pecados a Jesus e atender ao chamado divino. Concluída a oração, a jornalista disse que gostaria de confessar uma coisa a Franklin Graham, que logo retrucou: “Você já confessou todos os seus pecados a Jesus. Não precisa confessar nada a mim”. Mas ela insistiu e acabou por revelar que há 20 anos sofria o peso da culpa por causa de um aborto, mas que, agora, se sentia plenamente perdoada pelo Senhor.
É provável que algum leitor ou leitora que veio parar neste blog possa estar nas mesmas condições da jornalista, carregando a culpa por algum pecado, não importa qual seja, ainda não confessado diante do Senhor Jesus. Se este é o seu caso, aproveite este momento para arrepender-se e confessar a Cristo mediante uma oração sincera aquilo que tanto lhe incomoda. E ele, através da sua morte expiatória e ressurreição, lhe perdoará de todos os seus pecados. A seguir, comece a frequentar uma igreja evangélica onde se pregue a Bíblia, na qual sua fé será fortalecida em Cristo.
11 comentários:
Tenho sentimentos contraditórios a respeito de seu post. Por um lado me orgulho de tê-lo como articulista em nosso rol assembleiano. Por outro me sinto triste porque será mal lido, mal compreendido, mal aplicado. São os dramas da vida.
Li e reli o post, e mesmo que o senhor não precise, o endosso plenamente. Aguardamos novos posts sobre assuntos polêmicos assim, com a clareza que lhe é peculiar.
Abraços,
A paz do Senhor!
Postei este assunto no meu blog, porque percebi que muitos cristãos começaram se perguntar: Se fosse a minha filha? O que fazer? E a resposta de muitos foram... que eram a favor do aborto.
Simplismente, segundo que nos foi passado (ANÁLISANDO O QUE A IMPRENSA PASSOU) pois recebi inumeros emails informando que a menina não corria risco de vida. Como não posso afirmar! Me firmei no que a impressa passou para ver a opinião da igreja. Pois pela lei, se a vida da Mãe esta em risco o aborto é favorável. Mas a igreja precisa entender que vivemos primeiro na Lei de Deus! Que é contra o aborto!
Em Cristo
Edson Dorna
www.santodosantos.blogspot.com
Caro pastor e amigo Geremias, a Paz do Senhor!
Parabenizo-o por mais um excelente texto que nos brinda em seu blog, e ainda mais sobre tão nevrálgico assunto. Esse texto do irmão é mais uma demonstração da importância que há em o cristão debruçar-se sobre as grandes questões da vida e, à luz da Palavra de Deus, procurar respostas para elas.
Seguindo esse mesmo princípio, e estimulado pela sua exposição, gostaria de incrementar ainda mais a reflexão encetada pelo irmão, ressaltando inicialmente alguns pontos dela para, em seguida, tecer sobre estes algumas considerações.
Primeiro, como o irmão bem disse, erra quem evoca a lei (ou argumentos meramente filosóficos) para justificar um aborto. O fato de ser legal não significa dizer que é ético. Por isso, quando nós (cristãos que primamos pela ortodoxia bíblica) dizemos que algo é eticamente permitido, isso só poderá acontecer se podemos dizê-lo no sentido de que é biblicamente permitido, posto que a nossa regra de fé e prática é a Bíblia. Quando dizemos “É eticamente permitido”, devemos ter em mente que quer dizer o mesmo que “É biblicamente permitido”, pois a nossa ética é baseada nas Sagradas Escrituras, não em leis humanas ou em meras filosofias. Nossa ética é a Ética Bíblica. Nosso parâmetro é a Bíblia. É o que o irmão tem enfatizado nesta postagem e é o que fiz questão de frisar quando comentei o caso da menina de Alagoinha em meu blog (creio que o irmão deve ter lido).
Em segundo lugar, pelo que entendi, o irmão descarta o uso do princípio bíblico da preservação da vida como aplicável ao caso do aborto para salvar a vida da mãe, preferindo ver como melhor argumento (embora também não o considere sustentável) a ética hierárquica, e faz questão de salientar que, à luz da Bíblia, o aborto para salvar a vida da mãe não é admissível. Pelo que entendi, o irmão não considera a ética hierárquica como um princípio que tenha respaldo bíblico (“...Resta a alternativa da ética hierárquica em que a pessoa tem de optar entre o mal maior e o mal menor. Essa é uma decisão pessoal, humana, sofrida e amarga, sem que se invoquem princípios bíblicos para embasá-la...”) nem acha que o princípio bíblico da preservação da vida tenha a ver com o aborto para salvar a vida da mãe.
Em terceiro lugar, o irmão, para corroborar que esses dois argumentos não se sustentariam, destaca que é muito difícil hoje ocorrer uma situação em que realmente a situação seja aquela de “ou opta pela vida da mãe ou opta pela vida da criança que ela carrega em seu ventre”, mas admite que se uma situação desse tipo realmente acontecer “a discussão, em relação a nós, evangélicos, continua aberta apenas nesta hipótese, pelo seu elevado grau de complexidade”. Como sempre, o equilíbrio e a ponderação são uma marca em seus textos. Admiro-o, entre outras coisas, por essas características, que vejo mais uma vez expressas em uma postagem deste blog.
Em quarto lugar, concordo com o irmão que casos como esse devem nos levar a sermos o mais prudente que pudermos. Devemos ter muito cuidado para não sermos precipitados, erro que, de certa forma, foi cometido por mim ao comentar esse caso inicialmente. Digo “de certa forma” porque, mesmo que não incisivamente, no início já tratava o caso em meu blog em tom condicional, dizendo sempre “Segundo a equipe médica” e “De acordo com os médicos”, porém – e aí, sim, considero equívoco meu – enfatizando o benefício da dúvida para a junta médica. Acho que aí fui precipitado. Mas, por que agi assim? Porque confesso que não sou especialista para falar com segurança sobre uma área que não domino (Medicina) e porque meu intento era, como ficou claro, aproveitar a polêmica do caso para falar de um assunto pouco debatido no meio evangélico, que é a questão do aborto para salvar a vida da mãe. Esse era o ponto.
Mesmo assim, o efeito foi outro. Por exemplo, alguns colegas, logo depois que postei o artigo sobre o assunto, entenderam o contrário: que eu estava mesmo é querendo arranjar uma justificativa para a questionável decisão da junta médica, me deixando levar pela campanha midiática abortista (sic)! Outros, porém, sabendo de minhas convicções, não cometeram a bobagem de entender assim, mas alertaram-me, com toda razão, que eu estava sendo “muito generoso no benefício da dúvida” que dei à decisão da junta médica e que deveria ser mais cético quanto a esse diagnóstico, pois, colocando como coloquei as coisas, mesmo que involuntária e indiretamente, eu estava fazendo o jogo dos abortistas. Inclusive, evocaram denúncias feitas por sites católicos sobre os bastidores do caso, como as que descreviam a pressão da mídia e das ONGs abortistas. Analisando a situação, achei, sim, que fui generoso demais no benefício da dúvida que dei a junta médica, por isso fiz questão de enfatizar em meu blog, especialmente no espaço de comentários da postagem, os motivos legítimos que temos para pensar que o diagnóstico da junta é suspeito, porém deixando claro mais uma vez qual é o meu posicionamento diante de uma situação atípica de aborto para salvar a vida da mãe. Posicionamento este, aliás, que, como fiz questão de frisar, não é uma posição isolada de minha parte, mas admitida pela maioria das principais denominações protestantes no mundo, bem como pelos antigos judeus.
Finalmente, em quinto lugar, gostaria de destacar ainda a breve reflexão que o irmão faz, em quatro pontos, baseada em Salmos 139 (salmo este que afirma indubitavelmente que o feto é vida), onde infere que se a criança veio a ser concebida é porque Deus quer que ela prossiga em seu desenvolvimento, se não Ele não permitiria que ela fosse concebida. Comentarei isso mais à frente.
Bem, dentro desses cinco pontos que destaquei e enumerei da argumentação do irmão, quero fazer algumas observações especiais sobre o ponto 2 e (como já adiantei agora há pouco) o ponto 5, observações essas deixadas propositalmente para o final do meu comentário, pois estão interligadas. Vamos a elas.
A primeira observação é que, com todo respeito à posição do irmão (e o irmão sabe o quanto a respeito), vejo, como outros irmãos em Cristo, claramente cabível a aplicação do princípio bíblico da preservação da vida no caso da situação incomum de “ou a mãe ou a criança”, como fiz questão de explicitar em comentário no “Verba Volant Scripta Manent”, destacando, inclusive, que a vida da mãe não é mais importante que a vida do filho que ela carrega em seu ventre e a vida de seu filho no ventre não é mais importante que a vida dela – daí que, se acho pesaroso, mas ético, numa situação sem saída, uma mãe sacrificar sua vida em favor da sobrevivência do filho em seu ventre (não podendo considerar isso suicídio), o inverso deve ser visto da mesma forma (como uma decisão igualmente pesarosa, mas ética).
Acabei de dizer que “a vida da mãe não é mais importante que a vida do filho que carrega em seu ventre e a vida de seu filho no ventre não é mais importante que a vida dela”. Ora, como cristãos que somos, a base de nossas afirmações e argumentações éticas deve ser a Bíblia. Pois bem, vamos a ela: o “Commentary on the Book of Exodus”, da Magnes Press, frisa que a tradução mais correta da conhecida passagem de Êxodo 21.22,23 (usada equivocadamente por abortistas para dizer que a vida do feto não tem o mesmo valor que a da mãe) é a evidenciada por grandes eruditos em hebraico como Umberto Cassuto, que traduziu essa passagem da seguinte forma: “Se homens brigarem, e ferirem não intencionalmente uma mulher com criança, e seus filhos forem dados à luz, porém sem maior dano – isto é, nem a mulher nem as crianças morrerem – aquele que feriu será obrigado a indenizar segundo o que lhe exigir o marido da mulher; e pagará como os juízes lhe determinarem. Mas, se houver dano grave, isto é, a mulher ou as crianças morrerem, então darás vida por vida”.
Notemos que o texto bíblico supracitado dá claramente o mesmo peso à vida da mãe e à vida da criança em seu ventre. A vida de um é tão importante quanto a do outro. Equivalem-se em importância. Entretanto, o que acontece? O ser humano sem Deus tende a ver a vida do feto menos importante que a da mãe e, às vezes, nós, cristãos, no calor da defesa que devemos empreender contra o aborto, sem percebermos, eventualmente partimos para o outro extremo, tendendo a ver a vida do feto como mais importante que a vida da mãe. Refiro-me justamente ao momento em que, em uma situação sem saída, achamos ético sacrificar a vida da mãe pela vida da criança em seu ventre, mas, ao mesmo tempo, não consideramos ético o oposto. Ora, a Bíblia diz que nem a vida da mãe é mais importante que a do feto nem a do feto é mais importante do que a dela. Mas, muitas vezes, diante desse caso, agimos como se houvesse “dois pesos, duas medidas”.
O irmão diz que não se pode afirmar que se está preservando a vida no caso do eventual aborto para salvar a vida da mãe, porém não consigo ver isso. Alguém que pratica o aborto por causa de estupro obviamente não o faz movido pelo princípio da preservação da vida. O mesmo pode-se asseverar obviamente em relação a quem pratica aborto por eugenia ou simplesmente porque o filho lhe é indesejável. Entretanto, não se pode dizer isso do aborto para salvar a vida da mãe. Não se pode dizer isso de alguém que, devido a uma circunstância da vida, se vê diante de uma situação atípica onde tem de optar entre salvar a vida da esposa ou salvar a vida da criança no ventre dela, e resolve, então, mesmo que dolorosamente, sacrificar a criança no ventre para salvar a vida de sua esposa. Ele não o faz porque considera “o feto descartável”, como o irmão afirma. Ele não o faz porque não se preocupa com a preservação da vida; ele toma essa decisão para salvar pelo menos uma vida. Ele não opta por isso porque não considera o feto uma vida; ele sofre com essa decisão justamente porque sabe que o feto é uma vida. Assim como sofrerá se a decisão, a pedido da esposa, for salvar o filho e não ela (como já aconteceu, principalmente em décadas mais distantes, quando esse tipo de situação não era tão incomum).
Nem a vida da mãe é descartável nem a do feto. Tanto ao se escolher ela quanto ao se escolher ele, não se faz isso (pelo menos no caso do cristão verdadeiro) com base em considerar uma vida inferior à outra. Independente de qual das duas opções o cristão escolherá, ele o faz para preservar uma vida, já que, nesse caso, só haveria a opção de se salvar uma vida.
Em suma, nesse contexto, nem a decisão que beneficia a mãe em vez da criança no ventre significa desprezo à vida da criança, nem a decisão que beneficia a criança em vez da sua mãe significa desprezo à vida da mãe.
A Igreja Católica, porém, entende de modo diferente. Com todo respeito que tenho ao belíssimo trabalho de defesa da vida que a Icar desenvolve no mundo (sendo, no caso do Brasil, nesse campo, muito mais ativa que os evangélicos), ela comete um equívoco enorme ao chegar ao ponto de canonizar a mulher que morre no lugar da criança em seu ventre, como fez com a médica italiana Gianna Beretta Molla, que em 1962 optou por morrer para salvar a vida da menina que carregava em seu ventre (uma decisão ética correta) e de, ao mesmo tempo, excomungar quem, diante de situação idêntica, escolheu a segunda opção (que é igualmente ética), de salvar a vida da mãe. Baseado em que ela vê só a primeira opção como correta (e até exagera canonizando quem a segue) enquanto a segunda é vista como o extremo oposto, isto é, uma das piores transgressões à Lei de Deus? Em algum texto bíblico? Não, mas em uma encíclica. Ela tem certeza que essa opção é correta e aquela não porque foi convencionado assim nas encíclicas. Todas as vezes que você vê um católico pró-vida ser contra o aborto nesse caso específico, ele invoca encíclicas e dá a elas o “status” de Lei de Deus, com o mesmo peso das Sagradas Escrituras. Não há nenhum texto na Bíblia que indique que, naquela situação atípica, essa opção é correta e a outra não. Não há nenhum texto bíblico que me diz que a vida da mãe é menos importante que a da criança que carrega em seu ventre ou vice-versa, mas a Bíblia me diz que a vida da mãe é tão importante quanto a da criança em seu ventre. E como ela também me diz que devo preservar a vida e, nesse caso atípico, só posso salvar uma vida, logo as duas opções (optar pela vida da mãe ou optar pela vida da criança) são eticamente corretas. Igualmente dolorosas, igualmente deixando seqüelas profundas, mas corretas.
Não acho as encíclicas sempre incorretas em seu conteúdo nem desmereço a importância de argumentos filosóficos, mas minha decisão não deve basear-se em argumentos filosóficos de uma encíclica, mas na Bíblia Sagrada.
Outro ponto importante a ser frisado é que, geralmente, quando isso é explicado, o contra-argumento é: “Aborto é assassinato. Ponto. Tudo que você disse não muda esse fato”. E quem disse que esse fato não está sendo encarado nessa decisão ética? Quem contra-argumenta só com essa afirmação é que, a meu ver, está fugindo de todos os outros fatores éticos a serem analisados sobre o caso e que envolvem a vida da mãe. A situação seria muito fácil de ser resolvida se o problema fosse só esse. A questão, como o irmão bem frisou, é complexa.
Se todas as questões envolvendo morte fossem resumidas ao apenas se constatar se houve assassinato ou não para se definir se houve pecado ou não, então teríamos problemas, por exemplo, ao analisarmos determinadas verdades bíblicas. Eis uma: Matar com intenção de fazê-lo é assassinato, e assassinato é pecado. Ora, pena de morte é assassinato. Logo, pena de morte é pecado. Mas... a Bíblia aprova a pena de morte (Não sou simpático à pena de morte, mas reconheço que a Bíblia a aprova. Particularmente, creio que a pena de morte não serve para a realidade brasileira. Para ser aplicada aqui, deveria haver um sistema judiciário perfeito. Aliás, ela só poderia ser aplicada nos casos onde não pairasse a mínima dúvida, onde as provas contra o acusado de crimes hediondos fossem absolutamente incontestáveis).
Outro exemplo: Assassinato é pecado. Matar em uma guerra é assassinato. Logo, matar em uma guerra é pecado. Porém, a Bíblia não condena todo tipo de guerra.
Mais outro exemplo: Assassinato é pecado. O policial que mata o traficante em um conflito (como muitos de nossos irmãos que são policiais) comete assassinato. Logo, ele peca ao matar o traficante naquele conflito. Mas, a Bíblia não condena esse tipo de assassinato.
Mais um exemplo? Ok. Assassinato é pecado, mas o que dizer da passagem bíblica em que Saul pecou porque não assassinou e Samuel acertou porque fez o serviço que Saul deveria ter feito: assassinou, a espadadas, o rei amalequita (ele esquartejou-o, ou, como diz o texto bíblico, “despedaçou-o” – 1Sm 15.8-35)? Foi pecado? Se fosse hoje, Samuel seria visto como um demônio e Saul, como um crente espiritual.
Perceba: não estou dizendo que Saul estava certo e Samuel errado, só estou lembrando que as coisas não são tão simples assim em alguns casos específicos, excepcionais. Não estou relativizando a doutrina bíblica, assim como Deus não estava ao estabelecer essas exceções. Só estou dizendo que existem exceções à luz da Bíblia; só estou dizendo que nem sempre matar com intenção é pecado. O que aconteceu em casos como o de Samuel e Saul não é algo que pode ser reproduzido em nossos dias, à luz do Novo Testamento. Foram exceções para aquela época. Assim como há exceções ainda válidas para hoje, que são os outros casos que mencionei.
Isso é ética situacionista? Não. Não sou eu que mudo a doutrina bíblica com o passar dos tempos, mas é a doutrina bíblica que me indica onde estão as exceções. Cabe a mim apenas vê-las, percebê-las.
Mas, alguém ainda pode dizer: “Você está falando da morte de culpados, não de inocentes”. Ok. E as guerras em que Deus mandava assassinar todos (homens, mulheres, crianças, gestantes, idosos e até os animais)? As crianças não eram inocentes? As crianças no ventre dessas mulheres não eram inocentes? Elas eram culpadas de alguma coisa?
Já escrevi em artigo na extinta revista “Resposta Fiel” (CPAD), e creio que também em meu blog (se não me engano, em comentário a uma pergunta de um ateu em 2007), algumas razões – que podemos depreender pelas Escrituras – pelas quais Deus ordenou nessas guerras até mesmo a matança de crianças inocentes. Discorrer aqui sobre esse assunto alongaria ainda mais este comentário, por isso esquivo-me de fazê-lo. Quem sabe numa próxima vez? Porém, o que quero destacar aqui é que o mesmo Deus que condena o assassinato de inocentes, Ele mesmo admite que em algumas circunstâncias isso é eticamente possível. À luz da Bíblia, sabemos que, mesmo numa guerra justa, se alguém agir assim hoje, está obviamente pecando, cometendo um crime hediondo à luz da Bíblia, mas pergunto: Numa situação atípica, que é o aborto para salvar a vida da mãe, e à luz de tudo que já comentei analisando eticamente o caso à luz da Bíblia, Deus considerará a morte desse infante um pecado?
Bem, em penúltimo lugar, quero também dizer que, mesmo analisando o caso por outro ângulo, reconheço também a ética hierárquica como bíblica. Poderia evocá-la ao tratar do tema em meu blog, mas procurei tratá-lo por um outro ângulo por achar que o princípio hierárquico em questões éticas já é bastante conhecido. Quis dizer algo além do já habitual para ampliar a reflexão. Enfim, tomei um caminho diferente para chegar ao mesmo ponto dos que evocam apenas a ética hierárquica.
Diferentemente do irmão, vejo a ética hierárquica como uma das facetas da Ética Bíblica. É equivocado dizer que os cristãos que esposam a ética hierárquica o fazem sem base bíblica. O teólogo norte-americano Norman Geisler, por exemplo, e o célebre teólogo Charles Hodges, só para citar nomes bastante conhecidos, sérios e respeitados que tratam do assunto, não apresentam a ética hierárquica divorciada da Bíblia. A ética hierárquica é uma percepção extraída da própria Bíblia. Os cristãos que a esposam não tratam-na como mera elaboração filosófica, mas a reconhecem na Bíblia. Geisler, por exemplo, em seu livro “Ética Cristã”, que é uma obra por demais conhecida por quem estuda Teologia, e creio que conhecidíssima do irmão, menciona situações reais da Bíblia e de nossa época que embasam-na.
Mas, alguém pode dizer: “Ao afirmar biblicamente que a vida do feto é tão importante quanto a da mãe, você não está se contradizendo com a ética hierárquica que você diz reconhecer também como bíblica, e que é bíblica?” Não. Pelo que entendo, a ética hierárquica não diz que a vida da mãe é necessariamente mais importante que a vida da criança em seu ventre, mas entende que existe um princípio de hierarquia entre os princípios éticos e que, se este é aplicado ao caso do aborto para salvar a vida da mãe, abona-o.
Finalmente, vamos às quatro questões que o irmão coloca com base em uma reflexão em Salmos 139. Gostaria que o irmão meditasse nelas de novo, mas dessa vez aplicando-as aos abortos acidentais ou naturais:
1) Nesses casos, estavam essas crianças sendo entretecidas por Deus ainda no ventre materno ou apenas eram produtos restritos da conjunção carnal sem qualquer intervenção divina?
2) Estavam os elementos do seu organismo descritos no livro de Deus antes que viessem à existência ou nunca se cogitou a seu respeito na eternidade, sendo o episódio uma surpresa para Deus?
3) Quando essas crianças se desenvolviam no ventre materno, Deus já as conhecia e tinha para elas algum plano ou foram simplesmente geradas sem qualquer significado e propósito?
4) Teriam sido essas crianças gestadas por uma falha da soberania de Deus e, por isso mesmo, podiam ser descartadas ou faziam parte do plano divino, assim como não cai uma só folha da árvore sem que Deus o permita?
Essas perguntas poderiam ser ainda ampliadas para os casos bíblicos em que Deus mandou que os israelitas, ao destruírem nações inimigas, matam-se também gestantes e crianças:
1) Estavam essas crianças sendo entretecidas por Deus ainda no ventre materno ou apenas eram produtos restritos da conjunção carnal sem qualquer intervenção divina?
2) Estavam os elementos do seu organismo descritos no livro de Deus antes que viessem à existência ou nunca se cogitou a seu respeito na eternidade, sendo o episódio uma surpresa para Deus?
3) Quando essas crianças se desenvolviam no ventre materno, Deus já as conhecia e tinha para elas algum plano ou foram simplesmente geradas sem qualquer significado e propósito?
4) Teriam sido essas crianças gestadas por uma falha da soberania de Deus e, por isso mesmo, podiam ser descartadas ou faziam parte do plano divino, assim como não cai uma só folha da árvore sem que Deus o permita?
Concluindo, quero enfatizar ao amado irmão que o fato de afirmar que é assim que vejo essa questão não quer dizer que estou completamente fechado a vê-la de outra forma – contanto, claro, que seja pelas Escrituras, assim como o irmão tem feito –, até porque confesso que em meu curto período de vida sobre a Terra (que não chegou ainda a quatro décadas) já mudei de posição sobre essa questão duas vezes. Aliás, esse é um dos poucos pontos teológicos em que mudei de opinião durante a minha vida de reflexão bíblica. Comecei aderindo à exceção para o aborto para salvar a vida da mãe, depois mudei de idéia e, mais recentemente, voltei de novo a ver como antes. Entretanto, repito, estou aberto a ponderar mais sobre esse ponto à luz das Sagradas Escrituras.
Forte abraço!
Excomungar alguém é no mínimo não liberar misericórdia, embora automática e cheia de sentido.
Mesmo assim, o assombroso disso tudo é que alguns religiosos discursam contra o aborto, mas não ensinam a não engravidar! O arcebispo pode ter sido precipitado, porém não baixou a guarda quando pensou em defender o que pensava ser verdade: A Palavra. Enquanto o Governo e as Instituições (ONGS) que se ocupam da Vida, deveriam investir seus esforços na prevenção da gravidez indesejada e não olhar apenas pelo pelo viés da interrupção. E o que me deixa triste, pastor Geremias, é que nós evangélicos, exceto uns gatos pingados, o senhor e alguns outros, ficam em cima do muro quando chega a vez de defender a Palavra se tornam acuados para não ter o desprazer de ter a placa metralhada pela mídia, temos a verdade, mas quem quer colocar a cara pra bater?
Nesse caso, Precipitado? Gostaria de analisar melhor com o senhor a longitude dessa palavra em relação a ação do Arcebispo. Precipitado ou seguro naquilo que ele acreditava ser verdade?
Abortaram uma lição de juvenis de Escola Dominical comentada pela professora Elaine Cruz e vetada por alguns estados sobre o olhar precipitado de que a lição era liberalista. Precipatada a ação ou uma defesa do rebanho adolescente? Quando a própria lição traz questionamentos salutares e também comentários sobre tais polêmicas.
Enfim, sendo mais, menos, tudo, pouco, quase ou nada cristão, a vida pertence a Deus e precisa ser melhor repensada pelos iluminados da lei humana em defesa de uma vida que sem mente e corpo não consegue reproduzir criticamente as leituras sociais devido a essa avalanche de lixo cultural que não educa ninguém, apenas aliena e aborta toda dia.
Excelente exclarecimento, imprimi seu texto e distribui em minhas duas turmas na faculdade.
Um grande abraço, pastor Geremias, a paz do Senhor!
Irmão André Silva
Carpina - Pernambuco
http://olhos30.blogspot.com
Importante artigo pastor Geremias, parabéns por ter acrescentado mais sobre este assunto dentro da blogosfera, que a meu ver, pareceu bastante tímida sobre isso, creio que pela escassez de informações confiáveis.
Creio que o ponto alto de seu texto foi sobre a questão da preservação da vida da mãe ou do feto,pois sempre tendemos a opinar nestes casos em prol da vida da mãe.
Sinceramente penso que este caso deveria ter sido visto com uma melhor análise da situação e de recursos da medicina moderna.
O fato mais lamentável foi a verdadeira doutrinação promovida pela mídia, algo simplesmente absurdo e parcial.
Um forte abraço e Paz do Senhor!
Pr. Geremias,
Diante desta exposição tão rica, sobre esse tema polêmico, não tenho nada a acrescentar, a não ser dizer que concordo em plenamente com o irmão e agradecê-lo por compartilhar sua opinião conosco.
Abraço.
Parabéns, Pr. Geremias!
Achei seu post explêndido!
Apesar do elevado grau de complexidade que envolve tais discussões, desde o início do caso, percebi que a grande cobertura da mídia tinha objetivos obscuros, ou seja, era uma forma da mídia abrir novas discussões em defesa da legalização do aborto no Brasil.
Seu texto é perfeito e serve de alerta para nós, cristãos.
Deus continue vos abençoando.
Caro amigo Pr. Geremias do Couto,
Graça e paz!
Confesso que já tinha passado algumas vezes por aqui, porém, somente hoje pude concretizar definitivamente a leitura do seu post.
Diante da sua rica exposição, pela qual anecipadamente o parabenizo, fica evidentemente claro, que o preclaro blogueiro, primou pela ortodoxia bíblica, bem como pela tradição com que, principalmente nós os evangélicos vemos a questão.
O Pr. Silas Daniel, focou que a situação citada, revestiu-se de uma situação de extrema excepcionalidade, citando inclusive passagens bíblicas, onde excessões circunstranciais determinaram as ações.
O que mais me chamou atenção é que, e o irmão frisou muito bem, que as intituições, assim como a mídia pró-abortista, transformaram o caso em uma bandeira abortista, no sentido de influenciar e forçar uma barra em pról do aborto.
Desta maneira, aproveitaram o ensejo para colocarem a opinião pública a favor do que querem, usando uma situação circunstancial e de excessão, para benefício de uma regra geral que querem implantar.
Nos próximos dias, estarei participando de um debate em uma emissora de TV da região sôbre o referido tema, motivo pelo qual me foi muito últil.
Deus continue abençoando sua vida!
Nos laços do Calvário,
Pr. Carlos Roberto
Parabéns e muito obrigado pela exposição
“Não me resta nenhuma incerteza. O caso da menina de Alagoinha foi instrumentalizado para fortalecer a agenda pró-aborto...”
Pastor Geremias, penso o mesmo! Percebi que todas as condenações ao arcebispo não estavam pautados na piedade e identificação com a dor alheia, mas sim numa forma de apoiar a legalização do aborto. Era pura hipocrisia! Estavam abusando novamente dessa menina, para usá-la como um símbolo da legalização do aborto. Isso também é muito desumano!
Pr. Silas Daniel
Apreciei muito a sua postagem, pois me serviu muito para entender alguns aspectos da ética cristã neste tema complexo que é o aborto terapêutico. Contudo aprouve a mim postar este comentário para fazer uma pequena correção.
Em direito penal o que caracteriza assassinato são duas definições que seria o fato típico e a antijuridicidade. Ou seja, matar sempre será um fato típico, mas nem sempre será antijurídico, como no caso de legítima defesa ou estrito comprimento do dever legal. Portanto nem todo o ato de matar é considerado assassinato.
Abraço!
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