O ministério
terreno de Cristo teve por essência o ensino. Todos os seus atos – inclusive os
milagres – não fugiram à regra. Onde quer que estivesse, tinha uma meta:
ensinar as pessoas. As situações aparentemente mais corriqueiras serviam-lhe de
instrumento para expor uma lição aos seus ouvintes. Jesus viveu movido por este
propósito e empregou as estratégias certas para cumpri-lo.
Igualmente, a
Igreja hoje exerce o ministério pedagógico. Essa é a sua prioridade. O complexo
mundo pós-moderno impõe-lhe o dever de multiplicar as suas energias nessa
direção e ter como foco, sobretudo, as crianças, pois é nos primeiros anos de
vida que ocorre a estruturação psicológica do indivíduo.
Não desconhecemos
o avanço da pedagogia, nem lhe tiramos o mérito de introduzir novas formas de
pensar a educação para que os objetivos do ensino sejam alcançados. Mas estas
são as grandes perguntas de nossa reflexão: os métodos de Jesus continuam
válidos para a época atual ou perderam a sua eficácia? Se Cristo vivesse sua humanidade hoje como
seria a sua forma de aproximação das pessoas?
Se a pedagogia põe ao nosso dispor novas ferramentas para cumprir os
objetivos do ensino, em que podemos aprender com os métodos de Jesus?
UM HOMEM AFINADO COM O SEU TEMPO
Para que
tenhamos uma visão clara sobre isso, precisamos primeiro descobrir como Jesus
se relacionou com a sua época, envolvendo não só a questão religiosa, mas
também a cultura e os aspectos sociais. Esta premissa é necessária para que não
se tenha a idéia, pela leitura equivocada dos evangelhos, de que o Mestre tenha
sido uma pessoa alienada do contexto em que viveu.
Não obstante
Cristo ter nascido para cumprir os propósitos de Deus de implantar o Novo Concerto
entre os homens, do qual seria o mediador através do próprio sacrifício
vicário, sem nenhum vínculo formal com o judaísmo, a sua nacionalidade judaica
não foi uma circunstância, mas uma necessidade espiritual, profética e
teológica. Deus usou a nação de Israel para ser a depositária de sua revelação
à humanidade. Portanto, o Salvador do mundo, enquanto homem, teria de vestir-se
de judeu para cumprir os propósitos
divinos.
Assim, Cristo
foi em tudo uma pessoa afinada com o seu tempo. Ele viveu como judeu, cumpriu
os ritos do Antigo Concerto, incorporou em sua prática diária os elementos
básicos de sua cultura e fez uso das convenções sociais de então nos seus
relacionamentos. É óbvio que confrontou os erros, condenou a hipocrisia
religiosa, combateu o formalismo da fé, proclamou as boas novas do novo tempo
que Ele próprio representava, mas sempre se utilizou de ferramentas judaicas
para isso, inclusive na arte de ensinar ao povo.
Em suma, esta é
a expressão que melhor resume como o Mestre se comportou em sua vida humana: um
homem contemporâneo.
UM HOMEM QUE CONHECIA AS NECESSIDADES HUMANAS
Outra
peculiaridade de Jesus está na importância que dava aos relacionamentos. Ele
não deixou de valorizar os momentos a sós com Deus, onde renovava as forças
para os embates diários, mas ocupava grande parte de seu tempo em contatos com
as multidões e as pessoas em
particular. Ele o fazia porque conhecia as necessidades
humanas. Esse era o foco de sua atenção. Essa era a prioridade do seu ensino.
Qualquer que
fosse a forma de aproximação de alguém necessitado, ou da própria multidão, o
Senhor conduzia o processo até chegar ao âmago do problema para então propor os
caminhos para a mudança de curso e a restauração pessoal ou comunitária. Mas o
ponto de partida nunca se constituía de um discurso vazio e sem levar em conta
o que importava: a necessidade do próximo.
Em outras
palavras, o ensino não pode ser superficial, nem apenas formal. É preciso
considerar o que as pessoas necessitam e ponderar sobre como é possível
levá-las a mudar a sua concepção e a pôr em prática os conceitos aprendidos
para que façam sentido em sua vida e produzam aperfeiçoamento.
Isso implica em
convivência, compartilhamento, aceitação do ser humano, capacidade de avaliar
as reações alheias, interesse pelo que as outras pessoas vivem e sentem e
disposição para ser mais que um professor: tornar-se um verdadeiro condutor de pessoas, segundo a etimologia do termo
grego. Esse foi o sentimento que moveu o
coração de Cristo em sua compaixão pelo homem.
UM HOMEM QUE DOMINAVA OS RECURSOS PEDAGÓGICOS
Em vista do que
acabamos de expor, Jesus sabia fazer uso dos recursos pedagógicos e os aplicava
à luz das especificidades humanas. Ele não era um autômato que seguia a mesma
rotina em todos os casos. Mas agia como um conhecedor dos problemas humanos.
Os diálogos do
Mestre não se restringiam à mera ocupação do tempo, mas tinham objetivos
bastante definidos; suas perguntas retóricas não eram para demonstrar
conhecimento, mas instrumentos para chegar a um fim; suas parábolas não o
tornavam um simples contador de histórias, mas levavam-no a estabelecer
analogias consistentes; os seus simbolismos não ficavam no mundo abstrato, mas
eram extraídos da linguagem do povo para que este o compreendesse – em qualquer
situação o método era aplicado conforme o propósito.
Quando a
circunstância exigia conduzir o processo pedagógico etapa por etapa, esse era o
caminho; quando o confronto direto se impunha, esse era o método; quando a
demonstração de atitude era mais forte do que as palavras, esse era o
comportamento. Mesmo naquelas situações que envolviam logística, o Senhor
preocupou-se em criar condições para que seus ouvintes não tivessem nenhuma
dificuldade que os impedisse de serem alcançados.
Portanto, quando
se olha para a tríplice perspectiva do ministério terreno de Cristo – ensinar,
pregar e curar – percebe-se com bastante precisão que Ele não perdia as
oportunidades de cumprir os seus propósitos pedagógicos. Qualquer que fosse o
contexto, nunca deixava de ser contemporâneo na forma de falar às pessoas em
busca do fim desejado.
UM HOMEM CUJOS
MÉTODOS PERMANECEM ATUAIS
Após esta
reflexão, chegamos então à nossa grande pergunta: permanecem ainda atuais os
métodos empregados por Jesus? A resposta é positiva. À medida que a pedagogia
avança, novos conceitos são incorporados e outros vão sendo aperfeiçoados. Não
se discute, por exemplo, a importância da tecnologia para a educação. Entre o
antigo flanelógrafo e um moderno sistema multimídia a distância é muito grande
e ninguém, em sã consciência, abre mão do último recurso, se estiver disponível.
Todavia, se nos
dermos ao gratificante trabalho de comparar conceitualmente os recursos da
pedagogia moderna com os métodos empregados por Cristo, numa época em que as
limitações físicas eram enormes e o sistema educacional não dispunha das mesmas
facilidades de hoje, temos de convir que o Mestre sempre esteve na vanguarda.
Não só o seu ensino continua atual – e jamais deixará de sê-lo – mas os seus
métodos se constituem em excelente modelo para a nossa prática pedagógica.
Quando estudamos
as várias correntes da pedagogia, descobrimos conflitos entre uma e outra
escola. Mas há também nelas verdades que se complementam. Se cotejarmos essas
verdades à luz dos métodos de Cristo, veremos por fim que o Senhor, para o
nosso exemplo, “ousou” antecipá-las na realização do seu ministério pedagógico.
CONCLUSÃO
A conclusão se
dá, portanto, em duas vertentes. Na primeira, somos levados a crer que temos
muito a aprender com o modelo pedagógico de Cristo. Sem desconsiderar o que os
especialistas de hoje nos apontam como tendências da educação, no seu aspecto
positivo, nunca devemos abrir mão de compreender que o Senhor continua sendo o
nosso modelo de melhor educador.
Na segunda, temos
também de aceitar que se Jesus vivesse fisicamente entre os homens nos dias
atuais, não se furtaria em estar na vanguarda da educação com o propósito de
levar os seus ouvintes modernos a compreenderem cabalmente o seu ensino.
Repita-se: Ele é o nosso exemplo, somos seus imitadores, exerçamos o paidon em toda a sua plenitude.
Post Script:
Resumo de palestra ministrada em diferentes conferências e congressos na área da Educação Cristã.
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