Após tratar da questão igreja e política do ponto de vista teológico, ainda que de forma superficial,
repito mais uma vez, minha intenção nesta última postagem é apresentar
alguns critérios a serem levados em conta pelos cristãos que se sentem vocacionados para a vida pública.
Embora os princípios bíblicos valham para todas as funções, quero ater-me apenas às de cunho eletivo, isto é, àquelas que dependem do voto, pois este tem sido o ponto de tensão a cada período eleitoral.
Creio que a primeira premissa é
a de que se trata de um direito legítimo, como já vimos. Mas a
finalidade primeira e última de quem se candidata, por mais óbvia que seja, é servir ao povo e não a si mesmo e nem ao grupo a que pertença.
Quem entra para a política pensando noutra coisa já começa errado. Essa é
a razão pela qual ela é
malvista. São esses que trazem descrédito ao exercício político. No entanto, o caminho para aprimorar
a representação política é a qualidade dos candidatos e a qualidade dos votos.
A partir disso, o candidato evangélico deve abandonar o discurso surrado de que
pretende ser eleito para defender a igreja, como se ela, como instituição divina, tivesse necessidade desse tipo
de defesa. Não importa o regime em que viva, a igreja nunca perderá a batalha, pois é
atemporal e cumpre propósitos
distintos dos objetivos do poder político. Essa não é
a finalidade de sua existência.
É óbvio que, no âmbito da igreja local, em sua organização jurídica, ela pode
necessitar de alguma assistência, mas não é com essa finalidade que o candidato é eleito, como veremos mais abaixo.
Outra coisa que precisa ser evitada a todo o
custo é a transformação do púlpito
ou do culto em palanque eleitoral. Aliás, a lei proíbe campanha em espaços de uso comum, como os templos, sujeitando os infratores à penalização. O culto comunitário não se presta a esse fim e nem a qualquer outro tipo de negócio. Quem insiste nesse “modus operandi” não compreende o real sentido da adoração comunitária. Entre outras coisas, é ridículo, por exemplo, insinuar o número
da candidatura, citando capítulo e versículo da Bíblia com as dezenas correspondentes, quando se vai ler uma passagem.
É vergonhoso e depõe contra a igreja.
Cada candidato deve levar a sério a recomendação
do profeta Jeremias aos judeus exilados na Babilônia.
Ele foi muito incisivo: "Busquem a paz da cidade. Se ela tiver paz, vocês também terão", Jeremias 29.7. Em outras palavras, quem exerce mandato
eletivo deve pensar no interesse comum e não
de seu grupo em particular. Quando preconizamos a valorização da família, menores impostos, diminuição
das desigualdades sociais, educação de excelência, acesso à
saúde de qualidade e segurança para garantir o
direito de ir e vir, todos são beneficiados, inclusive o nosso grupo.
Creio também
firmemente que pastores titulares não devem
candidatar-se, a não ser que se licenciem do pastorado. Aliás,
há uma resolução da CGADB em vigor que faz essa recomendação
aos pastores assembleianos. Pena que não é levada a sério. Volto a Abraham Kuyper, que, ao sentir o chamado para ser
instrumento de Deus numa Holanda com graves desajustes sociais, sua primeira
iniciativa foi licenciar-se do pastorado. Só que não podemos ser
reducionistas. Usa-se muito 2 Timóteo 2.4 para conceituar este ponto. Mas ali fala dos “negócios desta vida”. É muito mais amplo. Ou seja, vai muito além da política. Pastores de tempo integral, que se dedicam ao pastoreio, comem
do altar e vivem integralmente para o altar, embora nem sempre seja assim.
No caso de quem é pastor, mas, já não se encontra à frente do rebanho, com responsabilidades pastorais, por diferentes
motivos, a licença não é necessária, pois ela já “existe” de fato. Como não tem compromisso direto com as ovelhas, terá tempo para atender as grandes demandas da vida pública e dedicar-se ao bem comum. Além disso, vale ressaltar que pastor não é título, outro erro que cometemos. Os dons mencionados em Efésios 4.11-16 têm natureza funcional.
Ao ser eleito, não faça com muitos políticos que só aparecem de novo às vésperas das eleições. A prestação de contas periódica é
uma obrigação de quem está no exercício do mandato. Nisso, os eleitores têm
a sua parcela de culpa. Muitos votam e depois nem se
lembram em quem votaram. Hoje, o mundo virtual oferece múltiplas ferramentas para que acompanhem e cobrem daqueles que foram
eleitos com os seus votos. Mas o detentor de mandato não pode omitir-se de estar presente, acompanhar o que acontece nas
bases e mostrar a que veio. É sua obrigação.
Convém, ainda, que, como detentor do mandato, o cristão se lembre de uma séria advertência dada por Cristo aos discípulos, no âmbito do Reino de Deus, para realçar que a missão recebida não era mero passatempo, mas exigiria embates até de natureza cruenta. "Eis que vos envio como ovelhas ao meio de lobos", disse o Senhor, Mateus 10.16. Creio que, por analogia, a metáfora se aplica muito bem ao mundo político. O cristão não voará em céu de brigadeiro e nem navegará a favor da corrente. Isso jamais pode ser esquecido.
Para
concluir, à luz do que escrevi nestas quatro postagens,
como pastor emérito ou presidente de
honra, sem responsabilidade de pastoreio, anuncio que sou pré-candidato a Deputado Federal pelo Estado do Rio de Janeiro. Após a aprovação
do nome em convenção partidária a ser realizada no dia 29 de junho e a partir do início da campanha no dia cinco de julho estarei postulando uma cadeira
na Câmara dos Deputados.
Quero ser apenas um braço do Reino de Deus na
esfera pública. Conto com as
orações de todos.
Um comentário:
Querido Pr Geremias do Couto
A Paz do Senhor
Sinceramente concordo com todas as suas sábias palavras. Um parlamentar dito evangélico tem que ter projetos para beneficar toda a sociedade. Agora, se um parlamentar usado pelo diabo quiser prejudicar a Igreja, ele tem que ter a coragem para lutar contra isto.
Vou ficar orando pela sua vitória, se for da vontade de Deus.
Fraternalmente em Cristo
Anatalício
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