Li, ontem, em O Globo, a notícia de que o senador Marcelo Crivella apresentou projeto de lei que inclui as igrejas evangélicas como beneficiárias da Lei Rouanet de incentivo à cultura, que prevê isenção tributária para entidades culturais. Fiquei perplexo!
Li, também, a opinião do mesmo jornal, que condena com veemência a proposta, mas comete um erro de avaliação ao pressupor que as igrejas evangélicas não fomentam cultura nem arte. Fiquei pasmo!
Ambos estão errados!
O senador por querer abrir as torneiras do Estado para ajudar as igrejas a cumprirem um papel que essencialmente não é a sua prioridade. O objetivo maior delas, sabemos todos, é de cunho espiritual.
O jornal por ser injusto em não reconhecer que, apesar de a prioridade das igrejas evangélicas voltar-se para o lado espiritual, elas produzem, sim, cultura e arte como resultado natural do trabalho que realizam.
Entendo que a proposta de Crivella é inoportuna e sem legitimidade pelo fato de as igrejas já desfrutarem de isenção tributária. Elas não teriam nenhum benefício. Por outro lado, não faz sentido que recebam esse tipo de incentivo por ser inconstitucional. Fere o princípio da separação entre Igreja e Estado. Para o seu trabalho de evangelização, já dispõem de recursos próprios.
Acresça se o fato de que entidades que, pela sua própria natureza, mantenham com as igrejas vínculos fraternos já estão contempladas na lei.
Por fim, ao contrário do que pressupõe O Globo, sem que isso signifique de minha parte apoiar a busca de privilégios estatais para as igrejas, sua influência na cultura e na arte está aí para quem tem olhos para ver.
Não é a Bíblia, além de sua mensagem religiosa, um livro que transpira cultura?
Não são os alfabetizados pelas igrejas inseridos numa nova realidade cultural?
Não é o índice de leitura maior entre os evangélicos do que no meio secular?
Não é o uso da música, principalmente regional, um forte componente de cultura nas igrejas?
Não são algumas catedrais evangélicas, como a da Igreja Presbiteriana do Rio de Janeiro, um exemplo de arte?
Basta.
Não concordo com Crivella. Mas também não aplaudo O Globo.
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