quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Pregadores ou profissionais de púlpito?

Credito: Blog Evangelizai
Nada tenho contra eventos e a participação de pregadores convidados, embora continue a crer que tornar essa prática uma rotina na igreja local pode gerar todo tipo de consequências, entre elas a falta de substância, a perda de identidade, alem de uma exposição bíblica acidentada e fragmentada, em virtude das diferentes visões daqueles que vêm de fora. Tal fato se agrava quando ditos pregadores são profissionais de púlpito, portadores de um número limitado de mensagens - aquelas que mais agradam ao auditório - e por isso mesmo passam a pregar no "piloto automático", ou seja, de forma mecânica, com uma "graça" que não é graça, apelando a todos os chavões para movimentar a plateia. Com as exceções de praxe, sei que isso muitas vezes acontece por faltar na igreja local quem exponha de forma consistente a Palavra de Deus. Mas não deveria ser assim.

Este é o ponto que gostaria de focar nesta postagem.

Entendo que pregar é uma tarefa que nos impõe enorme responsabilidade. Não é simplesmente cumprir mais uma agenda, fazer uma exposição verborrágica e partir para o próximo compromisso. Não é massagear o ego dos ouvintes, enquanto os nossos bolsos são massageados com polpudos cachês. Não é contar um monte de histórias, a maioria delas inverossímeis, enquanto o nosso histórico é mais capenga do que carro dos anos 60 sem manutenção. Não é um exercício de oratória com o propósito de mostrar as nossas habilidades retóricas, que não passam de esqueletos sem carne e sem vida.

Afinal, o que é pregar?

Pregar significa, antes de tudo, comprometimento com Deus de tal maneira que nossa comunhão com ele seja como o nosso fôlego: se nos faltar, morremos. Isso implica em vida de oração, na qual a ênfase não é para o monólogo, onde falamos sozinhos, mas para o diálogo, onde a nossa intenção é ouvir mais e falar menos, mas dialogar com aquele que muitas vezes usa as janelas mais simples da vida para nos ensinar preciosas lições. Pregar implica, também, em ter prazer na leitura da Escritura. Não lê-la simplesmente com intuito acadêmico, mas com a finalidade de metabolizá-la e torná-la parte indissociável de nossas vidas. É saboreá-la assim como se saboreia a comida mais prazerosa que nos é oferecida. É cumprirmos um "rito" que se assemelha ao que usamos quando estamos diante de uma boa refeição. É degustar, enquanto comemos.

Afinal, o que é pregar?

Pregar significa deixar que a mensagem fale primeiro ao nosso coração antes de entregá-la ao povo. Não é um processo da noite para o dia. É laborioso, leva tempo, exige reflexão, meditação, assimilação e compreensão. Requer ousadia para permitir que ela - a mensagem - nos corrija e nos leve a um patamar de piedade em que somos expurgados de nossos pecados, o nosso "eu" é subjugado e o "eu" de Cristo predomine em plenitude. Enquanto a mensagem for algo pensado apenas para os ouvintes, terá menos valor até porque ela poderá produzir os seus efeitos, mas ficaremos de fora por não os experimentarmos nós mesmos. Precisamos pensá-la, antes, sobre de que forma ela se aplica em nós, quais os resultados  produzirá em nosso coração. Em uma frase: o pregador prega primeiro para si mesmo. Se não for assim, é melhor deixar de pregar.

Afinal, o que é pregar?

Pregar é expor todo o conselho de Deus sem se preocupar se o povo aceitará ou não a mensagem. É obvio que pregamos com o propósito de edificar os ouvintes, mas pode ser que, no primeiro momento, essa edificação não seja aceita de bom grado por expor as vísceras pecaminosas de cada um, por configurar uma forma de retirar os carrapichos das ovelhas. Pode ser um momento sofrido, de dor, extremamente desconfortável, que, na hora, poderá causa rejeição, mas depois a alegria virá multiplicada pelos efeitos que produziu. Com isso, não advogo a estupidez, o uso da franqueza para justificar a grosseria, mas a fidelidade à mensagem que precisa ser transmitida.

Afinal, o que é pregar?

Pregar não é agir como camaleão, que muda de cor de acordo com as circunstâncias. Se o ambiente é conservador, a mensagem é conservadora. Se, por outro lado, o ambiente é liberal, a mensagem é flexibilizada. Entendo que, de acordo com o lugar, temos de usar linguagem adequada com a finalidade de tornar compreensível a mensagem para o auditório ao qual pregamos. Não ponho também em dúvida a necessidade de contextualizá-la ao meio, que é extrair de um texto escrito há milhares de anos a mensagem que se aplica à realidade atual. Refiro-me, de fato, àqueles que mudam o teor, alteram o conteúdo, aliviam os conceitos ou fazem tudo ao inverso só porque querem ficar "bem na fita" no ambiente em que estão. Para esses não há outra maneira de qualificá-los: são simplesmente profissionais de púlpito.

Temos de pregar a tempo e fora de tempo. Mas precisamos estar dispostos a sermos apenas ferramentas nas mãos de Deus. Não somos "showman". Não somos a pessoa para a qual os olhos dos ouvintes devem estar voltados. Não somos produtores de espetáculo. A mensagem não é nossa. Somos apenas o meio para que a glória seja sempre de Deus.

14 comentários:

Fillip Valentim disse...

Graça e Paz!

Um dos melhores textos que já li.

@fillip_

Anônimo disse...

GOSTEI, é disto que estou falando, clareza, firmeza, sem rodeios, direto ao ponto. JERRI ADRIANE.

João Q. Cavalheiro disse...

Todos os chamados pregadores, sejam eles profissionais de púlpito ou autênticos pregadores comprometidos com a Palavra de Deus, deveriam ler essas valiosas palavras. Parabéns Pr. Geremias! Deus o abençoe continue usando como atalaia.

Erlon Andrade disse...

Do tempo que esse assunto é abordado nas páginas da internet pelos "rebeldes", já era para se ter aprendido uma lição.
Mas sempre esquecemos e continuamos a bater na mesma tecla.

Memórias das Assembleias de Deus disse...

Diante de tantos "profissionais do púlpito", de tantas mensagens de autoajuda e de tantas heresias pregadas ultimamente, o texto é um bálsamo. Pregar verdadeiramente o Evangelho, e de forma verdadeiramente correta é um desafio constante. É um exercício de piedade e devoção, e como o senhor bem demonstrou, não um show visando lucros e fama.

Pastor Geremias Couto disse...

Meu caro Erlon Andrade:

A trombeta precisa soar sempre, pois o tempo passa e as verdades vão sendo esquecidas, ou, por outro lado, o erro insiste em ficar!

Quando lemos os profetas do AT, percebemos neles uma sucessão de advertências que são contínuas repetições, em virtude da insistente rebeldia do povo.

Como diz um dos nossos blogueiros, pr. Newton Carpintero, temos de "atalaiar"!

Wellington Barosa Gomes disse...

Caro pastor Geremias, meditando no seu texto, realmente é de se preocupar, com tanta bobagem que tem sido pregada em nossas igrejas. Uma das coisas que nos chamaram muito a atenção neste texto. Quando o senhor disse que; a falta de um ensino substancial realmente tem dado lugar a todo tipo de preleções, ou seja, pregadores profissionais que estão à procura apenas de serem vistos e que são convidados por os que os convidam não tem o que dizer as suas igrejas.
A pregação tem sido tratada como instrumento de afago para alguns que, tendo comichão nos ouvidos contratam pessoas para lhes falarem o que eles querem ouvir e não o que realmente precisam ouvir. Penso que um dos problemas mesmo, é a falta de uma pregação consistente e bibliocêntrica. Hoje em nossas igrejas e principalmente nos interiores. Não há uma preocupação com estudo da palavra. A preocupação está voltada para o templo, ou seja, quem tem o templo mais bonito, e pouco se fala na questão de conteúdo doutrinário de nossas igrejas. Temos pessoas recebendo cargos tais como: Presbíteros, evangelistas e muitos mais, sem terem nem ao menos uma base doutrinária. O problema é sério, se nós fôssemos bem instruídos, não deixaríamos ser enganados tão facilmente por alguns que se dizendo crentes, estão meio de nós dando mau testemunho. Quando a bíblia nos diz que estes falsos mestres seriam percebidos pelos seus frutos. Como vamos perceber estes frutos se não formos ensinados a fazer a diferença entre o que é o fruto bom e o ruim?
Fico muito feliz em saber que temos pastores como o senhor (Geremias) que se preocupam com conteúdo na mensagem. Diferente de alguns que são como Aimaás mensageiros sem mensagem (II Sm. 18. 29) estes querem está à frente mais não têm o conteúdo necessário para ocuparem os cargos em que estão. Estou orando por sua vida, pastor. Sei o quanto são perseguidos aqueles que estão procurando fazer a obra do Senhor com compromisso. A paz do Senhor e fique com Deus.
Wellington servo do Senhor e professor da EBD em Assú RN.

Unknown disse...

A paz de Cristo Pr. Geremias do Couto,

Hoje na verdade, os novos pregadores e aspirantes a tal, não buscam conduzir o povo de DEUS aos céus, mas a arrancar uma nota deles e isso implica as mais variadas aberrações.

gosto da pregações simples e que por mais conhcida que seje expõe a JESUS. que o centro de toda a Escritura.

Belas palavras que o Senhor te conserve assim. Uma dica, a ferramenta que colocaste para fazer propagandas, as vezes mostras conteúdos adultos.

Pastor Geremias Couto disse...

Caro João Dórea:

Muito obrigado pelas observações.

Gostaria, apenas, de pedir-lhe que indicasse qual a ferramenta no meu blog mostra conteúdos adultos, até para retirá-la, pois, a ser assim, é possível que esteja haqueada.

Agradeço.

Pr.Daniel S Acioli disse...

Meu irmão e companheiro nas lides ministeriais!

Graça e Paz da parte de Cristo Nosso Senhor!

De há muito temos visto a derrocada nos púlpitos pela avalanche de "consagrados" sem comprometimento com a genuína Palavra de Deus e falam o que querem e inventam barbaridades e o povão na maioria das vezes querem mais, vide Jeremias 5.30-31!

Parabéns pelo assunto e se me permitires gostaria de colocar no site de nossa Igreja e blog pessoal!

Que Deus nos ilumine e dê discernimento para entregarmos nossos "microfones'aos que realmente temam a Deus!

E se isso está aumentando é porque há muitos pastores que o negócio é carro novo, viagens, enriquecimento ilícito e outras coisitas no más (sic).

Há ministérios que está em nome do próprio, alguns dias atrás me informaram de um que possui só 16 automóveis e entre eles um Porsche!!!

Que diferença daquilo que aprendemos dos nossos pioneiros, acho que Daniel Berg e Gunnar Vingren estão se revirando na sepultura (força de expressão)!

Tem que começar pelo Altar!!

Pr. Daniel Sales Acioli

Pastor Geremias Couto disse...

Fique à vontade, meu caro amigo e pastor Daniel Sales Acioli, para transcrever o texto!

Abraços em Cristo!

Luciano de Paula Lourenço disse...

Prezado Pr. Geremias Couto, seus textos muito me agradam. Esta postagem merece uma nota; na escala de 0 a 10: nota 10. Ela precisa ser divulgada em outros blogs. Portanto, permita-me que eu a exponha no meu blog!
Deus te abençoe sobremaneira!
Luciano Lourenço

Pastor Geremias Couto disse...

Sem problemas, meu caro Luciano de Paula Lourenço. Pode publicar a postagem em seu blog.

Abraços em Cristo!

Walter Filho disse...

Concordo pr.Geremias!
Muitos pregadores (pregadores?!?) tem adaptado a palavra aos moldes que agradam seus ouvintes, quando na verdade era o ouvinte que deveria ser moldado pela prédica!

Como nesse post, que convido o sr. nobre pastor (At 17.10), a conferir em meu "microscópico" (joão 3.3) blog: http://blogdowaltim.blogspot.com.br/2011/09/mais-oiiiiiiiiiiii.html , o Sílvio "o" Santos, como o pregador do momento! Pensa!

Que Deus continue a inspira-lo nesses posts que são "bença" pra quem lê!

Microscopicamente falando (João 3.30),

Pr. Walter Filho

http://blogdowaltim.blogspot.com