sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Duelo: "A dignidade do mal disparo"




O meu amigo, rev. Ilton Goncalves, publicou um post sobre a dignidade de um mal disparo em um duelo. O conceito ali expresso me levou a outro desdobramento, visto que em tempos idos o duelo era aceito como forma de se resolverem querelas pessoais. O grande desafio, portanto, era que fosse certeiro o disparo. Mas quem fizesse o mal disparo não perderia a dignidade por ter aceitado as regras do jogo. O respeito lhe era devido pela "honradez" de não fugir da raia. Embora tenha feito um mal disparo, cumpriu com altivez os critérios.


No campo dos duelos verbais - o debate - a concepção é a mesma e pode ser definida como honestidade intelectual. Mesmo que a causa não seja boa, quem a defende precisa defendê-la com dignidade, sem apelar para a fraude retórica ou mesmo para ilações infundadas ou ainda para a desqualificação do oponente. É jogo sujo. Infelizmente, as rede sociais estão cheias desse tipo de comportamento. A retórica fraudulenta predomina em detrimento da consistência, as ilações e conjecturas são as mais absurdas e descabidas, sem obedecer a nenhuma lógica  e, se não bastasse, na falta de "bons tiros certeiros", o próximo passo é desqualificar o outro lado da mesa.

Por outro lado, quem recusa a causa, quem a combate, precisa recusá-la e combatê-la com dignidade, sem humilhar o outro, sem rir-se da fragilidade de seus argumentos ou mesmo assumir ares arrogantes como se fosse "o senhor da rua". Afinal, o debate não tem como finalidade trocar farpas, denegrir o oponente, polemizar pelo simples desejo de ser polêmico, expor a verve só para ser aplaudido. O debate visa, entre outros pontos, trazer luz sobre um tema e, para quem ainda não percebeu, mostrar que a verdade é cristalina. Portanto, não é de bom tom pisar sobre o perdedor.



Ter postura sensata permite que ambos os lados ensinem preciosas lições a quem assiste, não só quanto ao tema do debate, mas também na área do comportamento, bem como garante, ao final, a oportunidade de os debatedores tomarem juntos um bom café na primeira padaria da esquina que enseja a manutenção do diálogo e a consolidação de uma amizade.



Regra geral, os brasileiros são muito ruins nisso.

3 comentários:

Anônimo disse...

Conciso mas preciso!

É impressionante como há pessoas que utilizam retorica inválida e falaciosa nos seus argumentos. Reconheço que há bastante desse tipo na internet. Contudo, não é só nas redes sociais que impera as argumentações improcedentes.

Recomendo paras leitores do Blog "Como Vencer um Debate sem Precisar Ter Razão" do filosofo Artur Schopenhauer(com comentários de Olavo de Carvalho)

Clóvis Gonçalves disse...

Ótimo texto, Pr. Geremias. Gostaria de reproduzí-lo no Cinco Solas, onde "disparos" são constantes.

Apenas uma observação: o correto não seria "A dignidade de um mau disparo"?

Em Cristo,

Clóvis

Pastor Geremias Couto disse...

Meu caro Clóvis:

Pode reproduzi-lo à vontade.

Quanto ao título, estou em dúvida. Quando usei o vocábulo "mal", optei pela primeira definição do Aulete:

"1. Não bem, de modo imperfeito ou irregular; INCORRETAMENTE".

Todavia, em relação ao vocábulo "mau" a segunda definição do Aulete também favorece o seu uso:

"2. Que é malfeito, sem qualidade".

Com a palavra os linguistas.

Se for o caso, não tenho a menor dificuldade em alterar.

Abraços!