sábado, 18 de julho de 2009

"Deus provavelmente não existe"


A frase circulou o mundo há alguns meses. Foi o mote de uma propaganda ateísta levada a cabo em Londres para estimular as pessoas a “aproveitarem a vida”. Ela deu novamente o ar de sua graça há poucas semanas com a visita de Richard Dawkins ao Brasil para participar da Feira Literária de Parati. O que a propaganda e o escritor têm em comum? Ele é, hoje, por iniciativa própria, o maior propagador do ateísmo no mundo. No auge da campanha publicitária, deixou-se fotografar no ônibus londrino que estampava em letras garrafais a dita propaganda em painel com bastante visibilidade.

Não quero discutir aqui a revelação bíblica. Não tenho nenhuma incerteza sobre ela. Minha reflexão é no campo filosófico até porque Richard Dawkins é aclamado pela crítica como um grande pensador, que apresenta argumentos considerados o suprassumo do pensamento humano sobre Deus, contra os quais não haveria quem o pudesse contestar. Mas não é isso que percebo. Se o ateísmo que Richard Dawkins professa é esse estampado no ônibus, ele embarcou então numa canoa furada e acabou por reconhecer que descrer da existência de Deus é um salto no escuro.

Sem entrar nos pormenores científicos da publicidade, uma propaganda precisa pelo menos apoiar-se em três pilares: expressar uma convicção, ainda que nem sempre verdadeira (“este produto não falha”), criar uma necessidade em quem recebe a mensagem (“esse produto é exatamente o que preciso) e estimular o cliente a adquiri-lo (“preciso comprar o produto o mais depressa possível”). Mas a propaganda lançada em Londres e firmemente apoiada por Richard Dawkins vai na contramão desses princípios primários.

Ela não expressa convicção, mas, ao contrário, gera incerteza pela forma duvidosa como a proposição foi construída. Por força disso, estabelece uma probabilidade a partir do momento em que o advérbio empregado – provavelmente – não garante a inexistência de Deus como fato assegurado. Ora, como posso ter certeza, se a probabilidade é a força do argumento? Como acreditar em algo que se apresenta como duvidoso? Como crer numa mensagem que desacredita de si mesma?

A partir do momento em que a campanha não expressa convicção, o segundo princípio fica prejudicado. A necessidade deixa de ser criada. Creio que nenhum cliente terá coragem de adquirir um produto que se apresente como “provavelmente bom”. Ninguém vai empregar recursos e correr o risco de ter em mãos algo, que, antes mesmo de ser adquirido, não lhe dá nenhuma segurança. Como descrer da existência de Deus se isso é uma probabilidade, como afirma a propaganda?

Se o segundo princípio já ficou prejudicado, o terceiro mais ainda. Acredito que as pessoas não se interessarão pelo produto, se não forem convencidas de sua utilidade. Quem se atreveria a comprar o que está sendo anunciado, se os próprios anunciantes põem a sua validade no terreno hipotético? Só mesmo quem estivesse disposto a frustrar-se mais adiante ao perceber que comprou gato por lebre. Ou seja, o que a propaganda contra a existência de Deus subentende é que podemos quebrar a cara, se acreditarmos nela.

No entanto, o ponto mais vulnerável da campanha é que, ao pôr a existência de Deus no terreno da probabilidade, ela admite, por outro lado, a probabilidade da sua existência. Explico-me: se a inexistência de alguma coisa é admitida como provável, essa afirmação presume também a possibilidade de sua existência. Assim, mesmo que o slogan tenha como propósito desmoralizar a crença em Deus, deixa pressuposto, com o acréscimo do “provavelmente”, que Deus, de fato, possa existir.

Aqui entra em cena outro raciocínio. Se algo me é apresentado com prováveis qualidades e ele possa me acarretar danos, caso, ao adquiri-lo, essas qualidades não sejam encontradas, é óbvio que de pronto vou rejeitar o produto. Lembro-me daquelas velhas placas que existiam em nossas rodovias: “Na dúvida, não ultrapasse”. Não as vejo mais, seria bom que voltassem. Que mensagem passavam? Caso ainda persistam as dúvidas quanto à ultrapassagem, embora naquele trecho da rodovia não haja restrição alguma, permaneça na sua faixa, pois poderá correr o risco de um acidente.


Não faz muito tempo alguém comprou um medicamento receitado pelo médico, cuja bula enumerava uma série de efeitos benéficos para a erradicação da enfermidade. Mas ao final havia uma advertência: “Esta medicação pode ser potencialmente fatal para o ser humano”. Ou seja, corre-se grande risco ao tomá-la. Aí quem decide é o paciente. Ele é quem terá de medir a relação custo/benefício e arcar com as conseqüências, caso, ao tomar o remédio, sofra algum dano fatal.

Chego à conclusão.

Considerando que, se até mesmo na propaganda ateísta, os ateus duvidam do ateísmo;

Considerando que, ao pôr a “crença” ateísta no terreno hipotético, como um salto no escuro, os ateus admitem a probabilidade da existência de Deus;

Considerando que desacreditar da existência de Deus, como propõe a duvidosa campanha publicitária, pode acarretar danos no presente e no futuro;

Considerando que, como pressupôs no campo filosófico Blaise Pascal, é melhor acreditar na existência de Deus, pois, caso não se venha encontrá-lo, não se perderia nada;

Proponho:

Creiamos no que diz a revelação bíblica, que declara: “Ora, sem fé é impossível agradar-lhe, porque é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe e que é galardoador dos que o buscam”, Hebreus 11.6

Com isto em mente, sugiro ainda a seguinte campanha aos quatro cantos do mundo:

“Deus existe. Aproveite a vida... com Deus”.

11 comentários:

daladier.blogspot.com disse...

Que inveja. Como eu gostaria de ter escrito este texto. Fazer o quê? Ler, já li. Agora só resta comentar.

Abraços!

Unknown disse...

Ótimo texto pastor Geremias,

Tenho em minha prateleira o livro "Deus, um delírio", do Richard Dawkins. Lendo as páginas dessa obra me deparo com argumentos fajutas do lugar comum contra o cristianismo. Nenhuma novidade. Dawkins mostra completa ignorância sobre a teologia cristã. Além disso, me deparei com uma arrogância sem tamanho. Ele ainda teve a coragem de dizer que não é um fundamentalista ateu, mas ele se contradiz em cada página. Lendo a obra e a propaganda dos ônibus de Londres, só não posso esquecer de um versículo que já desmascarava a essência do ateísmo, que é a arrogância que resulta em falta de investigação:

"Por causa do seu orgulho, o ímpio não investiga; todas as suas cogitações são: Não há Deus" (Sl 10.4).

C. S. Lewis já dizia: "Um jovem que deseja permanecer um ateu assumido não pode ser muito cuidadoso com sua leitura"

Samuel Eudóxio disse...

Caro Pr. Geremias,
Paz do Senhor.
Realmente, como diz o amigo Gutierrez, citando Lewis, quem deseja permanecer ateu não pode ser muito cuidadoso com sua leitura. Tive experiência com um amigo ateu, e as suas argumentações eram sempre sem fundamento e demonstrava total falta de uma boa pesguisa, conhecimento bíblico e teologia cristã.
O grande problema é que no mundo capitalista e consumista em que vivemos, estão ensinando muito sobre "bençãos materiais e temporárias", esquecendo-se de ensinar sobre Deus e a necessidade de termos comunhão com Ele.

Que Deus em Cristo continue lhe usando para abençoar o povo brasileiro com as "Palavras da verdade".

Ev Samuel.

Carlos Roberto, Pr. disse...

Cao amigo Pr. Geremias do Couto,
A Paz do Senhor!

Parabéns pelo elucidativo texto!

Do jeito que a coisa está ficando, "haja fé" para continuar sendo ateu.

Como diz o ditado:
"O pior cego é aquele que decide não enxergar"

Um grande abraço!

seu conservo,
Pr. Carlos Roberto

De Paula disse...

Pelo que entendi, você argumenta que essa propaganda ateísta é fraca - quando, na verdade, é bem poderosa. Quando alguém que acredita em Deus se depara com "Deus não existe", vira imediatamente o olhar e ignora. Mas Dawkins tomou um passo menos radical, que busca destruir a fé pouco a pouco, começando justamente por incentivar a dúvida, que é menos, digamos, imediatamente repugnante aos olhos do homem religioso comum.
Não subestime a propaganda ateísta, mesmo Dawkins sendo um filósofo de meia-tijela, mais um "intelectual" no meio de tantos outros.

deborahtenembaum disse...

Pastor Geremias,
Que maravilha de texto!
Eu vi o famigerado onibus estampado na internet e fiquei chateadissima, os ateus são muito irritantes por se negarem a simplesmente ver mas ainda acho eles melhores do que os satanistas pelo menos eles não estão ocultos.

Andre H. Ferreira disse...

Ao meu ver de um lado está a religião inflexivel e inquestionável, sem considerar a possibilidade de estar errado. Do outro lado a Ciência que só toma como verdade algo comprovado, apesar de reconhecer que pode estar errado. os dois assuntos não se misturam em momento algum. E ambos cometeram atrocidades por toda a história. Diante disso acho que o radicalismo não é pertinente. Acredito que os religiosos deveriam ser mais cauletosos ao afirmar que Deus existe sem sombras de dúvidas, uma vez que não existem provas, convercer alguem que deus existe, sem que ele exista pode ser uma maneira de doutrinar a bel prazer da religião correspondente, seja o cristiansmo e suas diversas vertentes ou qualquer outra, budismo, Islam, judaismo e etc... De contra partida os cientistas tambem não deveriam afirmar que Deus não existe com tanta propriedade uma vez que os ateus concordam que pode estar errado. Quero dizer que não importa se é religioso ou ateu. O que importa são seus atos e suas consequencias destes. tanto na ciencia como na religião existem pessoas má intencionadas. Resumindo. O que importa de deus existe ou não, se julgará ou não. Nosso atos não podem ser guiados pela coerção ou apenas por constatações cientificas. Existe um meio termo, ache-o enquanto estiver vivendo.

Antônio Hofbah disse...

Acredito que você não entendeu muito bem o mote da campanha de dawkins.
O ponto de partida dele é a dúvida. Ele é apenas mais um dos vários autores/filósofos recentes que estão a por a religião diante de perguntas e questionamentos. O grande combate de Dawkins não é a religiosidade em si, como categoria inata ao ser humano, mas a religião e seus dogmas que, ao apresentar-se como verdade, aprisionam o ser humano e matam a liberdade de expressar suas emoções ao indizível, em dar vazão às pulsões de incompletude que procedem do interior e não se completam com meras ritualidades do exterior.
.
Não critique a todos que não a seguem como sofredores e inferiores.
Não tema a dúvida.

Sulo Cristão disse...

Há algo um tanto quanto hipotético e probabilístico no universo ateísta e evolucionista que tanto ameaça a fé do cristãos. Como disse Nancy Pearcy, que evidentemente deve ter lido em Doowyeerd, os discursos pseudocientíficos dos evolucionistas não passam de uma manifestação religiosa contrária a Deus. Conforme se pode verificar em textos sobre Doowyeerd, ninguém estaria livre de agir segundo pressuposições religiosas, ainda que tais pressuposições sejam contrárias ao Criador. E Romanos 1 realmente nos adverte de que muitos trocariam o Criador pelas criaturas.
Li recentemente (quase todo o livro) de Sproul sobre apologética e é impressionante como o autor demonstra que na verdade o cristianismo não tem nada de ilógico ou irracional, mas por outro lado são ilógicos ou irracionais as teses ateístas ou evolucionistas.
Infelizmente muitos de nós não estamos aptos para um enfrentamento dessas heresias religiosas que minam a fé dos irmãos cotidianamente. Embora a apologética realmente não salve ninguém, como deixa claro W. L. Craig em “Quem Precisa de Apologética Cristã”, publicado no blog Apologética, entretanto ela pode ajudar muitos irmãos a estarem mais firmes, como também afirma o mesmo autor. Nossos jovens estão cotidianamente em escolas seculares que têm por norte epistemológico a relatividade da verdade, o evolucionismo por religião e a matéria por deus. Como ajudá-los em situações como estas? É freqüente os professores ou outros intelectuais os considerarem apenas como pessoas ingênuas, presas numa religião porque ainda não chegaram ao conhecimento da verdade. Mas que verdade é essa que o mundo prega?
Vi um dia desses, num artigo da revista Fides Reformata, que não cheguei a ler todo, que uma das características do conhecimento secular hoje é o fato de ele ser ideológico. Se não há uma verdade absoluta todo conhecimento é uma imposição de classe ou grupo, logo, todo conhecimento é ideológico. Ora, isso é desconcertante.
Acredito que a igreja de Cristo precisa agir nesse sentido. Cristo nos disse para olhar, vigiar o orar. É bom que façamos as três coisas ao mesmo tempo.
Obrigado por se adicionar ao meu blog, fiquei muito honrado com a sua presença.
Que Deus nos abençoe.

André disse...

Qualquer posição religiosa irredutível é fanatica.

Alexandre Braga disse...

Paz do Senhor!

Pastor Geremias, sinto-me regozijado quando vejo um teólogo contemporâneo escrevendo artigos como esse, e como disse o irmão Ronaldo Rodrigues de Souza: "a safra de teólogos pentecostais não ficou no passado".
Os ateus costumas dizer: "sou ateu, graças a Deus". Até quando eles pretendem fazer descaso do Grande Deus, eles acabam tendo que colocá-lo no cenário, e acabam entrando em contradição. A grande maioria dos ateus querem viver a vida mergulhado no homossexualismo, prostituição, drogas, ou tudo misturado, sem que ninguém interfira, e acabam descobrindo que a intimidade com Deus não combina com o pecado, pois Deus ama o pecador mas odeia o pecado.
Em Cristo,
Alexandre Braga