terça-feira, 10 de abril de 2007

O futuro bate à porta

Lidar com o dia de amanhã não é fácil. Trata-se de um tempo sobre o qual não temos nenhum controle. Nenhum de nós tem a segurança em si mesmo de que viverá as próximas horas, quanto mais meses e anos pela frente! A única coisa certa é a nossa vida no presente, em cujo tempo buscamos cumprir nossos deveres e nutrir a expectativa de como será o nosso futuro.
Mesmo assim, não temos sequer a certeza, em nós mesmos, de como será o nosso próximo minuto, o qual, enquanto escrevo estas linhas, ainda está por vir, mas já se vai tornando presente para logo tornar-se passado. Assim é a vida. Os três tempos – passado, presente e futuro – se mesclam, enquanto a nossa história vai sendo escrita.

Em razão disso, muitos preferem viver à luz da equivocada filosofia expressa por um famoso sambista: “deixa a vida me levar”, que nada mais é do que a expressão do existencialismo em sua mais pura forma. É óbvio que o tempo, como água, se esvai de nossas mãos. Ontem, éramos crianças. Hoje, somos adultos e alguns de nós beiramos à terceira idade. Como passou rápido. Ontem, brincávamos no quintal de nossa casa com velhas quinquilharias, que, com alegria, transformávamos em “modernos” brinquedos. Hoje, estamos de cabelos brancos, rugas na testa, com muitos sonhos já realizados e outros que jamais chegaram a se concretizar. Parece que tudo aconteceu num piscar de olhos.

A Bíblia emprega duas metáforas que retratam com perfeição a forma como a nossa vida se relaciona com o tempo. A primeira encontra-se em Tiago 4.14, onde o nosso viver cotidiano é considerado como um vapor para referir-se àquele tipo de neblina muito comum em regiões montanhosas, na época do frio, que assim como chega logo desaparece. Experimento essa sensação com freqüência. Moro numa região onde quase todos os dias, pela manhã, do alto de minha casa, vejo a cidade coberta por essa densa massa branca para na hora seguinte ver tudo se dissipar sob os efeitos dos raios do sol.

A outra metáfora está em Tiago 1.10,11 e em 1 Pe 1.24. Aqui a vida é como a flor da erva, a qual, sob o ardor do sol, logo seca e murcha a sua flor. O homem do campo está bastante acostumado a esse tipo de experiência. Não há dia em que não veja essas “flores” perderem o viço no meio do pasto até onde a sua vista alcança. Pela manhã parecem exuberantes. À tarde secam. Não é assim também a vida? Ela não nos parece efêmera? Nem bem começamos a viver e já iniciamos a contagem regressiva para o final de nossa existência.

Mas não é por isso que vamos, agora, entregar-nos a uma vida sem significado, como se não houvesse horizontes. Como se fosse o passado uma tragédia; o presente, um fardo; e o futuro, uma incógnita. Ao contrário, o sentido de ambas as metáforas aponta para a importância de se dar a cada segundo o valor que ele tem para o nosso dia a dia. Ou seja, não basta apenas vivê-lo, mas é preciso empregá-lo em toda a dimensão humana. O tempo com que Deus presenteia a nossa existência, ainda que passageiro, quando olhado sob a perspectiva histórica, é a oportunidade de plantar não só para colhermos ainda nesta vida, no futuro que ainda não chegou, mas também para a eternidade. É a lei da semeadura e da colheita.

Assim, apesar de não nos ser possível ter o controle em nossas mãos sobre o dia de amanhã, sabemos de antemão que o propósito de Deus para nós a esse respeito é sempre o melhor. Não movamos os nossos pés sob olhos fracassados, que só conseguem enxergar o agora e se esquecem que o Pai tem o domínio do tempo e da história para levar a cabo cada etapa da melhor maneira possível, como planejou para o seu povo. Ao invés de “deixarmos a vida nos levar”, como canta o sambista, estejamos dispostos a ser conduzidos pelo Senhor à luz de seu perfeito plano para a nossa existência. Só assim os nossos atos serão coerentes com o verdadeiro significado existencial que Deus estabeleceu para cada ser humano.

Nossa postura deve ser, portanto, de santa esperança e nenhuma ansiedade. Que o passado fique onde está, com seus erros, acertos e lições, para que o presente flua e floresça, mesmo em pleno deserto, e possamos adentrar o futuro com a certeza de que o Deus de ontem é o mesmo que está conosco hoje e nos conduzirá amanhã. Ainda que em vales profundos ou em serras escarpadas, até alcançarmos o propósito final de nossa existência – o prêmio da soberana vocação em Cristo Jesus.

Isso implica – repita-se – em não ficarmos presos ao agora, como se estivéssemos a remar dentro de um barco amarrado no trapiche. Significa também não ficarmos com olhos fitos no passado, remoendo fracassos que em nada fortalecem a nossa esperança, mas em seguir sempre em frente, com os olhos fixos no alvo, e não nas circunstâncias momentâneas e adversas. O futuro bate à nossa porta, cheio de vida e realizações, para que a última página de nossa história tenha final apoteótico.

Nenhum comentário: